O presidente do gigante do e-commerce Mercado Livre, Stelleo Tolda, diz que o Brasil precisa de um governo que não atrapalhe o desenvolvimento da tecnologia. Para o cofundador da companhia, o futuro ganhador das eleições presidenciais deste ano deve ser alguém que se preocupe em trabalhar pela estabilidade econômica, e não para aumentar a carga tributária nacional.
Depois de quase dois anos na cadeira de presidente do Mercado Livre, Tolda se prepara para passar o bastão das operações da empresa em abril. Em entrevista ao Estadão, o executivo falou sobre os desafios do negócio em 2022, em meio às turbulências da eleição e à continuidade da escalada da inflação.
<b>Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:</b>
<b>Quais as expectativas do Mercado Livre para 2022?</b>
É um momento de recuperação por um lado, mas de incerteza por outro. A macroeconomia, sem dúvida, afeta o negócio. Mas a penetração ainda é baixa do e-commerce, assim como a digitalização de serviços financeiros. Vemos a possibilidade de atrair usuários para as nossas plataformas de Mercado Livre e de Mercado Pago, e não acreditamos que isso vai ser diferente em 2022, apesar das dificuldades.
<b>O que vocês estão fazendo para atrair esses novos usuários?</b>
Nós investimentos em divulgar a nossa marca. Estamos vendo um impacto crescente "do boca a boca" e das mídias sociais, conforme a gente tem investido em melhorar o serviço do Mercado Livre e as nossas entregas. Uma coisa que funcionou muito bem é a marca estar mais visível com as vans, carretas e aviões, que são mais vistos pelas pessoas.
<b>Como o Mercado Livre vai trabalhar para fidelizar o cliente que conquistou durante a pandemia?</b>
Temos investido em gerar essa fidelização, com nosso programa de benefícios, como as parcerias com sites de streaming. Mas entendo que é um ambiente extremamente competitivo, e a entrega melhor e mais rápida faz a diferença. Hoje, a gente já entrega 90% do que vendemos em até dois dias. Queremos levar essa experiência de entrega também aos lugares mais remotos do País.
<b>Se a entrega é chave, como lidar com pressões como as constantes ameaças de greve de caminhoneiros? </b>
Essas questões muitas vezes estão ligadas às questões macroeconômicas e políticas. Faz parte de ser empresário no Brasil, né? Nós temos notícias de bloqueios em rodovias, empresas paradas e até paralisações dos Correios, que pelo menos uma vez por ano costumam fazer uma greve. Precisamos ter planos de contingência para direcionar os volumes de entregas. No caso das transportadoras, trabalhamos com várias, para não ficar refém de uma ou outra empresa.
<b>Como o sr. vê a disparada da inflação no Brasil e na América Latina?</b>
Temos tido uma pressão inflacionária crescente mesmo em países onde ela estava mais controlada. Nos últimos anos, com exceção de Venezuela e Argentina, todos os outros vinham de um cenário de controle. A pandemia tem causado uma limitação nas cadeias de suprimento globais. Para nós, o maior impacto tem sido na parte de financiamento dos produtos. No Brasil, o parcelamento sem juros, mas que tem um custo embutido, acaba subindo muito conforme sobe a Selic. Em algumas situações, seremos obrigados a aumentar as tarifas em 2022, por conta desses custos de operação crescentes.
<b>O risco de polarização nas eleições é um ponto de atenção para a empresa?</b>
Estamos acompanhando com atenção, mas sem envolvimento direto. Não tomamos partido político. Falando como pessoa física e cidadão brasileiro, a polarização é ruim para o País. Gostaria que nós tivéssemos discussões políticas de alto nível, mas talvez isso seja um pouco idealista. Falando na pessoa jurídica, acompanhamos o pleito de 2022. Desde que o governo não atrapalhe o desenvolvimento da tecnologia, estamos contentes. Porque esperar que ele ajude o setor eu já acho que seria demais. Desde que não atrapalhe, que permita às empresas crescerem em um ambiente saudável e que não aumente os impostos, já está bom.
<b>O que o sr. vai fazer após o processo de sucessão no Mercado Livre, em 2022?</b>
Venho pensando nesse processo há alguns anos. A partir de abril de 2022 deixo a cadeira de presidente e me transformo em orientador dentro do conselho. O que eu vou fazer depois disso? Não sei. Com certeza alguns meses sabáticos eu terei de descanso e de reflexão sobre o meu futuro.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>