A possibilidade de inversão foi diminuindo com o tempo: depois de viver o papel do inescrupuloso advogado Billy Flynn na Broadway, o ator e barítono brasileiro Paulo Szot temia que suas falas viessem em inglês quando começou a ensaiar o mesmo papel na versão nacional do musical Chicago. "No começo, era mais difícil mudar a chave, mas, como falar em português me traz tranquilidade para alma, logo o risco acabou", conta ele que, ao lado de outros 17 atores, estreia o espetáculo nesta quarta, 26, no Teatro Santander.
A data prevista era em 2020, mas a pandemia também adiou esse projeto. Mas nada que tirasse seu brilho: concebido e inicialmente dirigido pelo grande diretor e coreógrafo Bob Fosse em 1975, Chicago não traz a grande parafernália de figurinos e cenários que habitualmente marca os grandes musicais. "Aqui, o que importa é o canto em combinação da coreografia com a atuação", observa Tania Nardini, diretora do espetáculo com vasto conhecimento sobre sua estrutura – além de ter sido diretora residente da primeira montagem nacional (em 2003), desde 2007 ela é a responsável por todas as montagem de Chicago pelo mundo.
<b>Exigência</b>
"É um espetáculo de muita exigência física para o elenco", comenta a atriz e cantora Emanuelle Araújo que interpreta a sarcástica Velma Kelly. "E ainda sentimos a vibração da orquestra, que fica no palco, abraçando o elenco", completa Carol Costa, que vive em cena a não tão inocente Roxie Hart. Os adjetivos usados para cada personagem não são exagerados – baseado em fatos reais (o julgamento de duas mulheres acusadas de assassinato, em 1924), Chicago conta a história das sedutoras presidiárias Velma e Roxie, que disputam um lugar nas primeiras páginas dos jornais. Ambas buscam se tornar celebridades e contam com a colaboração do advogado Flynn.
"É um assunto cada vez mais atual: a celebridade instantânea", comenta Szot. "E os fins justificam os meios", continua Carol, cujo personagem chega a inventar uma falsa gravidez para não sair das manchetes. "E aqui a coreografia não é apenas uma dança, mas ajuda a contar a história", completa Emanuelle.
De fato, desde que o som do trompete anuncia o primeiro número, All That Jazz, o espectador é convidado a entrar em um mundo em que as aparências enganam e que os fins justificam os meios. "É uma crítica social, mas com muito bom humor", pontua Tania Nardini, de olho principalmente nos detalhes. É justamente isso que distingue Chicago, até hoje o segundo musical há mais tempo em cartaz na história da Broadway (perde apenas para o imbatível O Fantasma da Ópera).
Um dos motivos é a notável coreografia bem ao estilo Bob Fosse, única, corporal, em que todo movimento significa algo: sempre sensual, mas nunca vulgar. Assim, nenhum detalhe – como o uso das mãos, o movimento das pernas, a forma de segurar o chapéu – pode ser desprezado. Assim, nada surpreendente que determinados números são classificados hoje como clássicos. É o caso, por exemplo, do tango em que as presidiárias tentam justificar sua inocência, ainda que com argumentos absurdos, como a moça jurando que o marido caiu de costas sobre uma faca – dez vezes.
"O musical valoriza a vontade de viver, algo ainda mais importante em tempos de pandemia", observa Stephanie Mayorkis, das produtoras IMM e EGG Entretenimento, responsáveis pela montagem nacional.
<b>Serviço</b>
<b>O que:</b> Chicago
<b>Onde:</b> Teatro Santander – Shopping JK Iguatemi, Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2.041.
<b>Quando:</b> Estreia hoje, 26/1 – 5ª e 6ª, 21h. Sábado, 17h e 21h. Domingo, 15h e 19h. R$ 75 / R$ 340.
<b>Como:</b> Obrigatório uso de máscara e apresentação de comprovante de vacinação contra a covid.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>