Não foi fácil, mas o presidente Andrzej Duda foi reeleito para mais um mandato de cinco anos à frente da Polônia, derrotando o liberal Rafal Trzaskowski, prefeito de Varsóvia. Para analistas, a vitória, apesar de apertada, fortalece a marca do populismo de direita no Leste Europeu, mostra o quanto os poloneses estão divididos e suas instituições democráticas, ameaçadas.
O comparecimento de quase 68% – o maior em 25 anos – mostra o quanto a Polônia está dividida. Apesar de Trzaskowski ter mobilizado os jovens e o eleitorado urbano de Varsóvia, Cracóvia, Gdansk e Lodz, Duda acabou eleito com uma retórica homofóbica que ressonou nas pequenas cidades e zonas rurais. Com o apoio do partido governista Lei e Justiça (PiS), ele venceu por 51,2% a 48,8% dos votos.
"A Polônia está profundamente polarizada por linhas partidárias, geográficas e de idade", afirmou Michal Baranowski, diretor do German Marshall Fund na Polônia. Agora, segundo ele, Duda e PiS devem aumentar a pressão sobre o Judiciário e a imprensa, além de intensificar os ataques aos homossexuais, ao aborto e à União Europeia – que acusa a Polônia de tentar desmontar o Estado democrático de direito os valores fundamentais do bloco.
Após a vitória, o ministro da Justiça, Zbigniew Ziobro, afirmou que Duda continuaria avançando sua agenda conservadora de governo. "O mais importante é completar as reformas no Judiciário e em outros órgãos de Estado. Então, tudo será mais profissional e rápido", disse o ministro.
Para Martin Mycielski, diretor de relações públicas da Open Dialogue Foundation na Polônia, a vitória de Duda significa o fim do Judiciário independente e uma derrota para o Tribunal de Justiça Europeu. "Se as decisões do TJE não forem aplicadas, isso significa a saída da Polônia do sistema jurídico comum da UE", afirmou Mycielski, que não descarta a saída do país do bloco. "Se você quiser fazer parte de um clube, precisa seguir as regras. Recusar-se é o mesmo que deixar o clube."
Para Mycielski, fundador do EU DisinfoLab, primeira organização europeia para combater a desinformação, muitos poloneses votaram por "medos estimulados pela propaganda do Estado, e não pela esperança".
"Este é um sinal para os populistas de outras partes da Europa de que o fim ainda não chegou. Desde que eles possam oferecer a combinação certa de ameaças externas e promessas de benefícios sociais, eles ainda podem manter ou ganhar poder", avaliou Mycielski, em referência aos generosos programas sociais criados pelo PIS.
Outro aspecto citado pelos analistas é de que as instituições da UE têm sido "fracas demais para impedir a onda populista de direita" no bloco. Para Mycielski, há dois cenários possíveis: ou os populistas continuam desmontando as democracias ou são expulsos da UE. "Ambos os casos significam algum tipo dissolução da União Europeia como uma comunidade unida, liderada por um conjunto comum de leis e de valores."
Os direitos das minorias são limitados na Polônia, um país de maioria católica e extremamente conservadora. O casamento entre pessoas do mesmo sexo é ilegal. Durante a campanha, Duda disse que a "ideologia LGBT" era mais perigosa que o comunismo.
"A situação pode piorar ainda mais, pois essas declarações de ódio são um convite para atos de ataques físicos reais", afirmou Adam Traczyk, pesquisador especializado em Europa Central e Leste Europeu do Robert Bosch Center.
"Ficamos preocupados com casos de retórica intolerante de natureza homofóbica, xenofóbica e antissemita, principalmente na campanha do presidente e na TV pública", disse Thomas Boserup, observador da Organização para Segurança e Cooperação da Europa (OSCE).
Um dos mais animados com o resultado foi o premiê da Hungria, Viktor Orbán, também nacionalista radical que tenta desconstruir as instituições do país. Orbán, que vive em pé de guerra com a UE, postou no Facebook uma foto sua cumprimentando Duda, seguida de uma mensagem celebrando a vitória. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>