Convocada em resposta à guerra interna no PSDB e com a intenção de indicar a posição do partido em uma negociação de aliança com o MDB e o Cidadania, a reunião ampliada da executiva nacional reforçou o movimento contra a postulação de João Doria, pré-candidato à Presidência pela sigla. Durante o encontro, realizado ontem em Brasília, a maioria dos presentes defendeu a tese de candidatura própria, mas com outro nome que não o de Doria.
O ex-governador paulista foi convidado pela direção tucana para uma nova reunião no fim da manhã de hoje, na capital federal. Na prática, o encontro foi a forma adotada pelo comando do partido para pressionar Doria a desistir da disputa ao Palácio do Planalto. A legenda também decidiu dar continuidade às negociações com o MDB e o Cidadania para uma chapa presidencial única, mas sem definir uma posição na data de hoje – como estava previsto inicialmente.
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, expôs a resistência a Doria ao dizer que ele "foi convidado a ter um diálogo com o partido para uma reflexão coletiva". "Temos o João Doria como candidato à Presidência. Compreendendo que as prévias se deram em um momento político e nós temos hoje o desenho de um outro momento político."
A nova reunião tucana foi marcada para horas antes do encontro com o MDB e o Cidadania, quando as pesquisas quantitativa e qualitativa para ajudar a definir um candidato conjunto serão divulgadas. Mesmo com o resultado das pesquisas, uma definição sobre a aliança só será fechada posteriormente, segundo Araújo.
<b>GESTO</b>
A sugestão de ouvir Doria foi feita pelo deputado Aécio Neves (MG), que cobrou do pré-candidato "um gesto de grandeza". "Sugeri que possa ser feito o mais rapidamente possível uma reunião para que o candidato João Doria ouça dos seu companheiros o que ouvimos aqui, que sua candidatura traz prejuízos ao partido em vários Estados", afirmou. "Tenho a expectativa de que, em um gesto de desprendimento, de grandeza, o governador possa construir essa saída, que é o sentimento amplamente majoritário do PSDB."
Por meio de aliados, Doria indicou que não vai comparecer. "Foi uma reunião formatada para constranger o João Doria e que não reflete o que a militância quer", disse o tesoureiro do PSDB, César Gontijo, que foi o defensor do ex-governador paulista no encontro de ontem.
Mais contido do que Aécio, Araújo afirmou que o "gesto de grandeza" de Doria seria dialogar com o partido. "O gesto de grandeza é dialogar, estar aqui conosco amanhã (hoje), e, de forma franca e coletiva, nós conversarmos e aguardarmos os resultados."
Ontem o <b>Estadão</b> mostrou que a defesa de Doria ameaçou ir ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) caso qualquer decisão fosse tomada em contrariedade aos interesses do ex-governador. O advogado Arthur Rollo, especialista em Direito Eleitoral, disse que o PSDB tem de cumprir o estatuto e homologar o resultado das prévias de novembro passado. "O normal na política é quando se judicializa contra o adversário. Judicialização interna é a antipolítica", disse Araújo.
Na reunião de ontem, Aécio e aliados de Doria – ali representados pelo ex-ministro Antonio Imbassahy e pelo presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi – trabalharam para evitar que o PSDB anunciasse hoje um apoio à senadora Simone Tebet (MS), pré-candidata do MDB ao Planalto. Agora, o desfecho da possível aliança deve ocorrer em uma data próxima das convenções partidárias, que definirão os candidatos e acontecem do fim de julho até o início de agosto.
Os partidos que tentam construir uma candidatura consolidada na chamada terceira via estão em negociação desde o início deste ano. A frente no centro político continha, além de PSDB, MDB e Cidadania, o União Brasil. Líderes dessas siglas haviam se comprometido em abril a lançar candidatura única para servir de alternativa à polarização entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro (PL).
O movimento – marcado agora pelos embates internos do PSDB – já sofreu uma significativa baixa no dia 30 de abril. O União Brasil, fusão de DEM e PSL, decidiu lançar o deputado federal e presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), como pré-candidato ao Planalto. Nesse meio-tempo, o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite, derrotado nas prévias tucanas, buscou se reabilitar como potencial candidato. Ele manteve encontros com Simone Tebet, mas depois recuou da empreitada.
<b>GOVERNADORES</b>
Os governadores do partido foram chamados para participar do encontro de hoje. Aécio citou o nome do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, candidato à reeleição. "Uma comissão representativa dessa executiva, defendo com a presença de governadores de Estado, de todos eles, acho importante inclusive a participação do governador de São Paulo", declarou.
Segundo Aécio, Garcia e Bruno Araújo estimularam a candidatura presidencial de Doria com o objetivo de tirá-lo do governo paulista. De acordo com o ex-governador de Minas, os dois agora querem derrubar a pré-candidatura presidencial porque a rejeição de Doria atrapalha o projeto de reeleição de Garcia.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>