A injeção de novos recursos para estimular a economia dos Estados Unidos e do Japão, que já reflete positivamente nos negócios no exterior também contagia o Ibovespa, que abandona uma série de quatro pregões de baixa. O bom humor externo ainda é puxado pelo crescimento de 17,7% nas vendas do varejo dos EUA em maio, ante previsão de 7,9%. O resultado é bem diferente do visto no Brasil, onde as vendas cederam em abril. O presidente Donald Trump comemorou, ao afirmar que "hoje será um grande dia para os mercados de ações e empregos."
Mas nem mesmo dados fracos de atividade internamente, que captaram os efeitos da pandemia do coronavírus, cuja situação ainda segue preocupante, devem atrapalhar a expectativa de valorização na B3. Em abril, as vendas do comércio no conceito restrito caíram 16,8% ante março, e cederam 16,8% no confronto com abril de 2019. Já as vendas ampliadas, que englobam ainda o desempenho de veículos e de material de construção, tiveram recuo de 17,5% na comparação mensal e declínio de 27,1% na interanual.
Os números varejistas, contudo, tendem a reforçar as estimativas de recuo da taxa Selic no Comitê de Política Monetária (Copom), amanhã, de 0,75 ponto porcentual, conforme mostra pesquisa do <b>Projeções Broadcast</b>, o que pode servir de alento a papéis do setor de consumo. Às 11h04, o Ibovespa subia 2,64%, aos 94.815,77 pontos.
O apetite ao risco desta terça-feira tem como mote relatos de que o governo do presidente dos EUA, Donald Trump, estuda um plano de quase US$ 1 trilhão para a infraestrutura. Ontem mesmo as bolsas norte-americanas já haviam reagido em alta após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciar nova medida de apoio ao sistema financeiro, com a compra de títulos corporativos, para apoiar a liquidez no mercado e o crédito para grandes empregadores. Já o Banco do Japão ampliou o volume de um programa especial de financiamento para empresas prejudicadas pelo coronavírus.
"Teremos um dia de alta nas bolsas ainda em função do Fed. Internamente, deve seguir o exterior. Os mercados surfando na liquidez mundial promovida pelos bancos centrais", diz Luiz Roberto Monteiro, operador de mesa institucional da Renascença.
A despeito da menor aversão a risco nos mercados hoje, o movimento é visto com cautela, diante de preocupações com o ritmo de retomada da economia mundial e de uma nova onda da pandemia, por exemplo. O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, relata em nota que tal contexto de recuperação dos ativos continua frágil e dependente de fatores de baixíssima previsibilidade. "Ainda assim, a monumental liquidez internacional força os investidores a manterem um cenário de mercado praticamente apartado do que se considera o mundo real", avalia.
Os estímulos também impulsionam as commodities, o que é mais um fator a beneficiar o Ibovespa, que é composto por uma gama de ações ligadas ao segmento. O petróleo, por exemplo, sobe quase 5% no exterior, enquanto o minério de ferro no porto chinês de Qingdao fechou com valorização de 1,36%, a US$ 104,85 por tonelada. As ações da Petrobras reagem em alta também perto de 5% e as da Vale, de mais de 2%
Além da atenção nos papéis atrelados a matérias-primas, o investidor ainda foca nas ações da Embraer e da Oi. No caso da primeira, a fabricante de aviões brasileira anunciou ter fechado um pacote de financiamento de US$ 600 milhões para capital de giro de suas exportações. Os papéis da empresa sobem quase 7%. Já a Oi encaminhou à Justiça pedido de aditamento ao plano de recuperação judicial que foi aprovado pelos credores da companhia em dezembro de 2017. Na ocasião, as dívidas de R$ 64 bilhões foram reduzidas e parceladas no tempo, mediante compromissos assumidos pela tele.