Este ano não vai ter o tradicional cortejo para celebrar Ulisses (1922), o livro de James Joyce (1882-1941) que se passa todo no dia 16 de junho e que inspirou o Bloomsday. Mas vai ter o Bloomsday, sim, hoje – aqui, na Irlanda e onde houver um leitor fanático por Joyce conectado à internet. E este ano vai ter, pela primeira vez no Brasil, o Dalloway Day, na quarta, 17 – foi numa quarta-feira do mês de junho que Virginia Woolf (1882-1941) situou Mrs. Dalloway (1925), seu romance mais conhecido. Tudo online.
Já em sua 33ª edição, o Bloomsday paulistano terá como foco o 6º episódio de Ulisses, o Hades, quando Leopold Bloom reflete sobre a vida e a morte no enterro de um amigo. A escolha não foi por acaso, explica Marcelo Tápia, coordenador do evento criado em 1988 por Haroldo de Campos, e dialoga com os dias que estamos vivemos.
"Nada como a arte para elevar nosso espírito e, no momento, dar sentido transcendente a nossa angústia diante da morte. A obra de Joyce é uma fonte inesgotável para evocação de todos os temas possíveis", explica Tápia. Um dos destaques do programa é a leitura, em diversos idiomas, por nomes como Aurora Bernardini, Moacir Amâncio, Simone Homem de Mello e o próprio Tápia, de uma montagem de trechos em que Bloom, cético, questiona a ideia de Juízo Final. A programação, que inclui ainda exibição de vídeos, outras leituras e apresentações, será das 18h30 às 20h30, pelo Google Meet, que tem capacidade para 250 pessoas – é preciso se inscrever pelo site da Casa Guilherme de Almeida.
Em Florianópolis, outro reduto joyceano, o Bloomsday: Indoors with Molly Bloom, organizado por Clélia Mello, Sérgio Medeiros e Dirce Waltrick do Amarante, também contará com leituras em outras línguas. "Nosso Bloomsday, há alguns anos, vem destacando aspectos políticos e leituras feministas da obra de James Joyce. Este ano teremos Molly Bloom nas línguas canônicas e também nas periféricas, do ponto de vista do mundo literário oficial: suaíli e guarani. Teremos ainda uma peça baseada em Esperando Godot, Quando Eles Esperam, que tem muito a ver com Molly Bloom, que ao longo do romance permanece em casa esperando o retorno do marido Leopold Bloom. Ela aguarda também a vinda de um jovem poeta, que pode ser seu filho ou seu amante: Stephen Dedalus", conta Dirce, pesquisadora e tradutora de Joyce. A programação pode ser acompanhada pelo blog do projeto a partir das 8h.
Na quarta, 17, das 17h às 18h, será realizado pela The School of Life e Editora Nós, o Chá das Cinco com Virginia Woolf. Com ingressos a R$ 88 (moradores de São Paulo que comprarem até as 17h de hoje ganham um chá especial), o evento, transmitido pelo Zoom, vai reunir a editora Simone Paulino, da Nós, que vai começar a publicar Virginia, e a tradutora Ana Carolina Mesquita.
"Devido à pandemia, esta primeira edição será virtual, mas já estamos planejando 2021, quando se completam 80 anos da morte de Virginia. A ideia é fazer um dia inteiro de programação na Vila Madalena, com encontros e debates nas livrarias do bairro, cursos e um chá literário de verdade e com bolo", adianta Simone.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>