Sempre que uma potência hegemônica em determinada época percebe a ascensão de outra potência, pode provocar uma guerra que seria inevitável. Essa dinâmica é chamada de "a armadilha de Tucídides" pelo cientista político americano , e estaria acontecendo neste momento entre China e Estados Unidos.
Allison usa as ideias do historiador grego, que há dois mil anos narrou o conflito entre Atenas e Esparta, para demonstrar como um conflito crescente entre as duas superpotências atuais é inevitável.
Em A Caminho da Guerra, lançado pela editora Intrínseca, Graham analisa o impacto do crescimento da China sobre os EUA e sobre a ordem mundial.
Ao jornal O Estado de S. Paulo, ele, que foi consultor de Ronald Reagan, Bill Clinton e Barack Obama, diz que os países seguem em rota de colisão.
<b>A era de domínio dos EUA pode estar chegando ao fim?</b>
Para os americanos que cresceram em um mundo em que os EUA eram o número um – e isso seria desde 1870 – a ideia de que a China poderia derrubar os EUA como maior economia é impensável. Muitos americanos imaginam que a primazia econômica é direito inalienável, a ponto de se tornar parte de sua identidade nacional. A menos que os EUA se redefinam para se contentar com algo menos do que ser o número um, americanos cada vez mais acharão que a ascensão da China é perturbadora e intimidadora. Não é só mais um caso de competição entre grandes potências, mas uma rivalidade clássica da armadilha de Tucídides, em que cada um vê o outro como ameaça à sua identidade.
<b>Os EUA perderam influência?</b>
Estamos vendo uma mudança tectônica do poder internacional. A participação dos EUA no PIB global diminuiu de metade em 1950 para um quarto no fim da Guerra Fria em 1991; é um sétimo hoje e está em trajetória para ser um décimo em meados do século. Em 1991, a China mal aparecia em qualquer tabela de participação. Desde então, disparou para ultrapassar os EUA em PIB em paridade de poder de compra (PPC), medida que a Agência Central de Inteligência (CIA) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) consideram como melhor parâmetro de comparar economias. O impacto dessa mudança é sentido não só entre EUA e China, mas entre eles e seus vizinhos. Quando em 2001 a China entrou na Organização Mundial do Comércio (OMC), o principal parceiro comercial de cada grande nação asiática eram os EUA. Hoje, o parceiro comercial predominante é quem? China. Dito isso, seria prematuro excluir os EUA. Como o investidor mais bem-sucedido do mundo, Warren Buffet, lembra sempre aos investidores: ninguém nunca ganhou dinheiro no longo prazo vendendo a descoberto (ou seja, vendendo um ativo que não tem, esperando a queda no preço para recomprá-lo depois) nos EUA.
<b>Como evitar a armadilha?</b>
Ao longo dos quatro anos desde que meu livro foi publicado, procuro maneiras de dar uma resposta positiva a essa pergunta – na verdade, para escapar da armadilha de Tucídides. Até o momento identifiquei nove possíveis vias de escape. A que estou explorando mais com acadêmicos chineses e americanos combina um antigo conceito chinês de "parceiros na rivalidade", uma abordagem que o presidente John Kennedy adotou após a crise dos mísseis cubanos (conflito ocorrido em 1962 relacionado à colocação de mísseis soviéticos em Cuba) – ele pediu para que EUA e União Soviética coexistam em um mundo seguro para a diversidade. Parceiros na rivalidade descreve a relação que o imperador Song, da China, concordou em estabelecer com Liao, uma dinastia da Mandchúria, após concluir que seus exércitos não seriam capazes de derrotá-los. No Tratado de Chanyuan, de 1005, Song e Liao concordaram em competir agressivamente em algumas arenas e cooperar em outras. A questão hoje é se os estadistas americanos e chineses poderiam encontrar um caminho análogo. A possibilidade de que nações possam competir implacavelmente e cooperar intensamente soa para os diplomatas como contradição. No mundo dos negócios, porém, é chamado de vida. Apple e Samsung, por exemplo, são rivais implacáveis no mercado global de smartphones. Mas quem é o maior fornecedor de componentes da Apple para smartphones? A Samsung.
<b>O sr. acredita que China e EUA entraram numa nova guerra fria?</b>
As relações estão destinadas a piorar antes de piorar muito. Quando um poder crescente ameaça substituir um poder governante, alarmes soam: perigo extremo à frente. Tucídides explicou essa dinâmica no caso da ascensão de Atenas para rivalizar com Esparta na Grécia antiga. Desde então, a história se repete. Os últimos 500 anos viram 16 casos em que uma potência em ascensão ameaçou deslocar um grande poder governante e 12 terminaram em guerra. Enquanto os americanos começam a descobrir que a China é um rival sério, a analogia para este embate é cada vez mais a guerra fria. Mas as diferenças entre as rivalidades EUA e China e EUA e União Soviética são significativas. Compreender isso será fundamental na elaboração de uma estratégia dos EUA para o desafio da China. A possibilidade de uma guerra real, por incrível que pareça, é maior do que a maioria avalia.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>