Estadão

PF mira investidores da B3 que usaram informação privilegiada e lucraram R$ 3 mi

A Polícia Federal faz buscas na manhã desta terça-feira, 27, contra quatro investidores para aprofundar investigação sobre suposto crime de uso indevido de informação privilegiada (insider trading) envolvendo a negociação de ações das empresas Sul América e Rede D Or às vésperas do anúncio de incorporação das mesmas. De acordo com a corporação, um dos alvos da operação investigado teria auferido lucro de mais de R$ 3 milhões com as operações sob suspeita.

A ofensiva foi batizada Insider11 e cumpre mandados de busca e apreensão das cidades de São Paulo, São Caetano e Campinas, além de vasculhar um endereço em Goiânia. Os alvos são Augusto Alvez Velloso Mascarenhas, Yuri Fonseca da Rocha, Marcos Vinicius Silva Cardoso e Patrícia de Carvalho Zaniboni. Os dois últimos são advogados, o que mobilizou equipe da Ordem dos Advogados do Brasil para acompanhar as diligências.

A Justiça Federal também mandou vasculhar a sede da empresa Mithra Research Sociedade Ltda. O entendimento foi o de que a medida era imprescindível uma vez que a companhia é o elo entre os investigados, indício que aponta para uma ação coordenada entre os mesmos.

A fase ostensiva das investigações foi aberta por ordem do juiz Fernando Toledo Carneiro, da 7ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Ao analisar representação da Polícia Federal em São Paulo, o magistrado considerou que há indícios da materialidade do fato criminoso sob suspeita ao deferir as ordens de busca e apreensão cumpridas na Insider11 .

Segundo o despacho do magistrado, a investigação foi aberta em 24 de fevereiro deste ano, para apurar a atuação de suposto grupo que teria usado informação relevante, ainda não divulgada ao mercado, e teriam negociado, em nome próprio ou de terceiro , ações da Sul América e da Rede D or.

O crime de uso indevido de informação privilegiada sob suspeita teria ocorrido no dia 23 de fevereiro, entre as 17h53 e o final do pregão da Bolsa de Valores (B3) , inclusive abrangendo o período referente aos leilões.

Os investigadores entenderam que houve um movimento brusco e atípico de alta das ações SULA11 e RDOR3, nos minutos finais do referido pregão, realizado no dia de divulgação de fato relevante (incorporação de empresas), que já havia vazado do âmbito das empresas .

No bojo da investigação, a Justiça Federal em São Paulo chegou a afastar o sigilo das operações financeiras realizadas na Bolsa com relação às SULA11 e RDOR3, referentes ao dia 23 de fevereiro. A decisão atendeu um pedido da Polícia Federal e deu aval para o compartilhamento dos dados da Comissão de Valores Mobiliários e BSM – Supervisão de Mercados sobre apurações internas sobre o mesmo fato.

A CVM acabou identificando indícios de uso indevido de informação privilegiada em relação a negociações atípicas de valores mobiliários de emissão da Sul América S.A (SULA) realizadas por sete investidores – seis pessoas e uma empresa – entre 17 e 23 de fevereiro desde ano, em momentos anteriores próximos à divulgação do fato relevante emitido pela Sul América S.A e Rede D Or São Luiz.

Cruzando as informações, a Polícia Federal destacou à Justiça que quatro dos sete nomes identificados pela CVM tem vínculo direto ou indireto com uma mesma empresa. Por sua vez, o juiz Fernando Toledo Carneiro entendeu que havia fundadas razões para autorizar o cumprimento de mandados de busca e apreensão contra os investigados.

Na avaliação do magistrado, a medida é necessária para para reforço do conteúdo probatório, devendo-se procurar por elementos "que possa indicar que os investidores suspeitos negociaram com utilização indevida de informação privilegiada relativa ao contexto do fato relevante emitido pela Sul América S.A e Rede D Or S.A em 23.02.2022" .

"A possível atuação coordenada entre os investigados que, no período em questão, mantiveram negociações atípicas de valores mobiliários de emissão da Sul América S.A (SULA), identificadas pela CVM e acima transcritas, auferindo lucros consideráveis, afasta, a princípio, o argumento de que as operações tenham sido realizadas ao acaso, em especial quando absolutamente demonstrado que a operação entre as empresas Rede D or e Sul América vazou à grande imprensa, antes da publicação do fato relevante", ponderou.

<b>COM A PALAVRA, A DEFESA DOS INVESTIGADOS</b>

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com a defesa dos alvos da operação Insider11 , mas sem sucesso. O espaço está aberto para manifestações.

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