País terá clareza de política fiscal só com Orçamento definido, diz diretor do BC

O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, disse nesta terça-feira, 12, que apenas após a aprovação do Orçamento deste ano a autarquia terá uma visão clara sobre os rumos da política fiscal, onde está o risco que vem sendo mais destacado nas comunicações de política monetária.

"Teremos clareza da política fiscal de 2021 e espaço do teto quando o Orçamento estiver definido", comentou o diretor do BC em live da XP Investimentos.

"O debate continua acontecendo, e é totalmente político. O Banco Central está à parte. Naturalmente, nossa variável de controle é a taxa de juros. Quando o debate terminar, e ficar claro, vamos colocar nas contas e avaliar todo entorno fiscal, o contexto, e as melhores decisões de política monetária", acrescentou Serra, dizendo que a situação das contas públicas mudou pouco desde o fim do ano passado.

<b>Teto de gastos</b>

O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou ainda que um eventual rompimento do teto de gastos no Brasil ficaria "mais claro" ao mercado neste momento, ao contrário da situação verificada na crise fiscal anterior, entre os anos de 2011 e 2015.

"Comparando com o que ocorreu em 2011, 2012, 2013, 2014 e 2015, que você foi tendo uma piora fiscal lenta e constante, sempre surpreendendo para o lado pior, e demorou um pouco a perceber a deterioração, aqui, por ter o teto constitucional (…), é um processo, que vai ficar muito mais claro. A coisa é mais imediata", afirmou o diretor, durante evento virtual.

Bruno Serra lembrou que, caso ocorra rompimento do teto de gastos, será preciso haver uma votação no Congresso, o que deixar a questão mais clara. "É mais palpável. Obviamente, uma janela, um par de meses, pode acontecer um debate, pode estar acontecendo, mas é um par de meses. Não é um negócio que leve seis meses", disse, ao tratar da percepção sobre o futuro da questão fiscal. "Um sinal importante vem da política. Você tem um momento importante na Câmara e no Senado para eleger presidentes. Vai ser colocada a agenda, e a gente vai estar aqui como espectador, para tomar a melhor decisão possível de política monetária", acrescentou.

Ao mesmo tempo, o diretor afirmou que "não é fácil" precisar o quanto a questão fiscal influenciará as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom). "Apesar de não ser uma coisa binária, a gente provavelmente teria sinais de que o regime fiscal se romperia, antes de ele ser rompido de fato", acrescentou.

<b>Câmbio</b>

Durante o evento, Serra citou as incertezas fiscais entre as variáveis que explicam o atual patamar do câmbio, junto com o desmonte de <i>overhedge</i>, redução da dívida das empresas em dólar e menor diferencial da taxa de juros do Brasil com de países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos.

"O Brasil se acostumou a conviver com diferencial de juros alto ou muito alto, sendo consistentemente um dos três mais altos do mundo", observou, acrescentando que nenhum país com classificação de risco BB pratica hoje taxa de juros de 2% ao ano, como o Brasil.

Para ele, no longo prazo, o câmbio tende a voltar a uma situação de maior normalidade por questões estruturais.

O diretor do BC disse ver uma tendência também de normalização de estoques da indústria, mesmo com uma esperada desaceleração do consumo e do varejo. A percepção, disse, é de que a economia global não está entrando num ciclo de crescimento tão forte, mas com os preços de commodities em alta, o crescimento deve vir mais naturalmente – ou seja, com menor necessidade de estímulos.

Serra observou ainda que a forma de intervenção dos países no pós-pandemia foi diferente da atuação na crise de 2008, com injeção fiscal mais intensa.

Bruno Serra participou nesta terça de evento virtual sobre "Conjuntura Econômica Brasileira", organizado pela XP Investimentos.

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