A decisão da Ford de encerrar sua produção é só uma parte da crise hoje no setor no País. A queda no estoque de automóveis de fábricas e concessionárias registrada nos últimos meses respinga também no mercado de locação de veículos. Atualmente, as empresas de aluguel de carros aguardam a entrega de 100 mil veículos adquiridos e em atraso, segundo a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (ABLA). "Tudo isso se refletiu no preço dos carros e também no valor das diárias, uma vez que esse é um período de forte demanda", diz o presidente da entidade, Paulo Miguel Jr.
O executivo afirma que o problema é resultado das restrições sanitárias do início da pandemia, que prejudicaram a entrega de peças para as montadoras. Na semana passada, a Anfavea – associação que reúne as fabricantes do setor – anunciou que o estoque das empresas entra 2021 no pior nível de todos os tempos.
O volume de carros hoje é suficiente para apenas 12 dias de venda. Em condições normais, esse estoque gira em torno de 30 a 35 dias. A falta de peças, segundo a entidade, é o principal limitador à retomada da produção – cerca de 30% dos componentes dos veículos são importados.
Segundo Miguel Jr, os pedidos das locadoras que normalmente eram entregues em 30 a 45 dias hoje estão entre 90 a 120 dias. Essa extensão de prazo prejudica o planejamento e os negócios das locadoras, como a demanda de carros por assinatura. Esses contratos são de longo prazo e voltados para pessoa física. "O problema é que vários clientes assinaram o contrato e estão tendo de esperar cerca de 120 dias para receber o carro."
O diretor da locadora Europcar, Eladio Paniagua Jr, afirma que os atrasos têm ocorrido desde abril do ano passado. A empresa aguarda a entrega de 100 veículos, mas as montadoras só têm conseguido enviar cerca de 20 por mês. Ele diz que algumas fábricas estão pedindo até 180 dias para a entrega dos automóveis. "Isso causa um transtorno grande porque temos de entregar os veículos aos nossos clientes e não conseguimos."
Para ele, além do atraso, outro problema é o aumento dos preços dos veículos. "De abril a dezembro, por causa da alta do preço do aço e outras peças, houve reajuste de 20% no valor dos carros." Além disso, completa o executivo, os descontos que o segmento normalmente tinha – e que variavam entre 13% e 26% – caíram para algo entre 6% e 12%.
Miguel Jr diz que a expectativa é que a situação comece a se normalizar em março. Atualmente, o setor opera com 100% de ocupação, sendo que em situações normais esse porcentual é de 80% a 90%. No ano passado, foram comprados 350 mil veículos – 76 mil a menos que em 2019. A frota deve somar 1,1 milhão de veículos./<b>COLABOROU EDUARDO LAGUNA</b>
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>