A bancada do PSB na Câmara dos Deputados resolveu pedir publicamente para que o ex-governador de São Paulo Márcio França seja escolhido para comandar o Ministério das Cidades. Em jantar realizado na noite desta quarta-feira, 30, o deputado Felipe Carreras (PSB-PE), que vai liderar os deputados federais eleitos pelo partido em 2022, disse que “o nome hoje prioritário se o PSB tiver um ministério é o nome de Márcio França”. No entanto, petistas dos grupos de cidades e da articulação política da transição de governo ouvidos pelo <i>Estadão</i> dizem que o nome de França não é consenso.
A pasta também é cobiçada por outros aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo uma ala do próprio partido dele, o PT. O deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP) e o ex-governador do Ceará e senador eleito Camilo Santana (PT-CE) também são cotados para o cargo.
O ministério é desejado por ter um orçamento bilionário e ser responsável por iniciativas importantes, como o Minha Casa Minha Vida e obras de saneamento. A pasta também é importante porque permite ao ministro estar em constante contato com prefeitos, governadores, deputados e senadores, dando a oportunidade de aumento da articulação política regional e nacional.
Tanto o PSOL, quanto o PSB pretendem lançar candidatos a prefeito de São Paulo em 2024. Depois de chegar ao segundo turno contra Bruno Covas (PSDB) em 2020, Boulos é considerado um nome natural para concorrer novamente. O PSB tem avaliado o nome da deputada Tabata Amaral, que é a presidente do diretório paulistano da legenda.
Boulos e França são integrantes do grupo de trabalho (GT) das Cidades na transição de governo. Ambos têm falado constantemente com a imprensa sobre ações da pasta. Em falas no Centro Cultural Banco do Brasil, os dois têm reclamado do orçamento deixado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para a área. O deputado eleito pelo PSOL também comentou que vai pedir a criação de uma secretaria para cuidar de territórios periféricos, algo diretamente ligado a sua atuação política, visto que ele começou a ganhar notoriedade ao liderar o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
Além dos dois, uma ala do PT, sobretudo a concentrada no Nordeste, demonstra preferência para que o ex-governador Camilo Santana seja o ministro. O petista já foi próximo do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT), mas ficou ao lado de Lula após uma briga interna entre PT e PDT no Ceará nas eleições deste ano. Camilo Santana também faz parte da transição, mas na área de Desenvolvimento Regional.
Quando assumiu o governo em 2019, Bolsonaro fundiu as pastas de Integração Nacional e Cidades em apenas uma e a batizou de Desenvolvimento Regional. Lula já avisou que vai desmembrar de novo em dois ministérios. O senador eleito também pode ficar com o Desenvolvimento Regional, mas o ministério das Cidades é considerado mais atrativo por concentrar obras de habitação, saneamento e transportes.
Ao falar sobre a posição da bancada do PSB, o deputado Felipe Carreras disse que França tem o perfil para a área por já ter sido prefeito e governador. “A bancada indicou, sim. Hoje é o ministério que a gente acha que pode colaborar, pelo perfil, já foi prefeito, governador. É uma indicação do partido e da bancada”, disse.
O deputado Marcelo Freixo (PSB-RJ), que foi filado ao PSOL durante 16 anos, minimizou as disputas dos partidos pela pasta. “O PSB tem toda a legitimidade de indicar nomes. A bancada nova do PSB indicou, é absolutamente legítimo. Assim como o PSOL, o PSD, assim como todos os partidos. Se trata de uma composição de governo que quem decide é Lula e todos os partidos tem legitimidade de indicação. Cabe ao presidente compor o ministério”, disse ao <i>Estadão</i>. Freixo concorreu ao governo do Rio de Janeiro neste ano, mas perdeu para Cláudio Castro (PL). Ele também faz parte da equipe de transição e está no grupo de turismo.
Procurado para comentar se o PSOL pode fazer um gesto público parecido em relação a Boulos, o presidente do partido, Juliano Medeiros, desconversou. “Não estamos debatendo esse tema. Foco total agora é na PEC (da Transição)”, afirmou.