Estadão

Dólar fecha em queda após Padilha negar ação para reverter autonomia do BC

O dólar à vista caiu 0,06% em hoje, a R$ 5,1965, interrompendo uma sequência de três dias em alta. Agentes do mercado atribuem o resultado a falas conciliadoras do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, além de uma entrada de capital estrangeiro no País. Como resultado, a moeda brasileira teve o melhor desempenho entre as divisas emergentes e exportadoras de commodities.

Após uma reunião com o presidente e líderes partidários no Planalto, Padilha negou que haja um processo de "fritura" do BC, garantiu que o governo não tem ações voltadas a reverter a lei de autonomia da autarquia e disse que o conselho político da coalizão não discutiram hoje as metas de inflação. As notícias foram bem recebidas pelo mercado, diante da ofensiva conduzida por Lula contra o BC e seu presidente, Roberto Campos Neto.

"Vieram os bombeiros de plantão, para tentar apaziguar o incêndio que o presidente colocou no mercado com as falas dele", diz o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. "O ponto que o mercado está monitorando é para onde vai a política em relação aos gastos públicos, para onde vão as reformas, e o ponto do Banco Central, para ver se é algo que pode ser contornado, se pode mudar a posição do presidente."

O distensionamento do cenário doméstico levou o real a ter o melhor desempenho entre as principais divisas emergentes latino-americanas e exportadoras de commodities, em um dia de ganhos acima de 1,5% nos preços do petróleo. Hoje, a moeda americana subiu 0,28% em relação ao peso mexicano e ganhou 1,05% na comparação com o peso chileno. O dólar também ganhou frente às moedas da Austrália (+0,54%) e do Canadá (+0,37%).

Além das sinalizações positivas na política, o chefe da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, atribui o desempenho do real à queda das taxas dos Treasuries nos Estados Unidos. Mesmo com falas de diversos dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) hoje, o sinal dado ontem pelo presidente da autoridade, Jerome Powell, que falou em um processo de "desinflação" no país, prevaleceu.

Não à toa, o dólar tocou a mínima de R$ 5,1677 (-0,67%) ainda no começo da manhã, enquanto os mercados repercutiam as declarações de Powell. Depois, engatou alta e atingiu a máxima de R$ 5,2450 (+0,87%) por volta de 13h30, antes das falas de Padilha. Em seguida, a moeda americana moderou continuamente o ritmo de alta ante o real, em linha com a baixa dos Treasuries, até firmar-se em queda nos últimos 40 minutos da sessão.

Para Velloni, da Frente Corretora, o movimento no fim do pregão refletiu o ingresso de fluxo estrangeiro para a Bolsa. Por volta desse horário, o Ibovespa acelerou os ganhos e chegou a retomar os 110 mil pontos, em alta acima de 2,0%.

Hoje, o BC informou que o fluxo cambial total em janeiro foi positivo em US$ 4,176 bilhões, em dados preliminares, contra um saldo negativo de US$ 13,808 bilhões em dezembro. "O fluxo cambial, com o estrangeiro entrando em Bolsa e renda fixa, é o que tem segurado um pouco mais o estresse do cenário doméstico", observa o operador de câmbio da Fair Corretora Hideaki Iha.

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