Desde que recebeu autorização para acessar mensagens hackeadas da força-tarefa Lava Jato, apreendidas na investigação que prendeu o grupo responsável pelo ataque cibernético, a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem apresentando ao Supremo Tribunal Federal (STF) laudos feitos por um profissional independente contratado para periciar o material.
A análise tem sido feita em etapas em razão do volume de conversas interceptadas. A cada relatório, novos trechos vêm à tona e movimentam a opinião pública. No documento mais recente, enviado ao Supremo nesta sexta-feira, 12, as mensagens mostram procuradores discutindo a necessidade de atingir Lula na cabeça para vencermos as batalhas já abertas.
"Depois de ontem, precisamos atingir Lula na cabeça (prioridade número 1), para nós da PGR, acho que o segundo alvo mais relevante seria Renan Calheiros, ex-presidente do Senado", diz mensagem atribuída à procuradora Carolina Rezende, que integrava a equipe do então chefe do Ministério Pública Federal, Rodrigo Janot. "Vamos torcer pra esta semana as coisas se acalmarem e conseguirmos mais elementos contra o infeliz do Lula", acrescenta.
A troca de mensagens, em um grupo no aplicativo Telegram, ocorreu em 5 de março de 2016, um dia depois de Lula ter sido conduzido coercitivamente, por ordem do então juiz Sérgio Moro, para ser interrogado pela Polícia Federal nos autos da Operação Alethea, 24ª fase da Lava Jato.
No mesmo dia, segundo diálogos da petição, a força-tarefa combina a divulgação de uma nota a favor de Moro, criticado por determinar a condução do petista, para não deixar um amigo apanhar sozinho, nas palavras de um dos procuradores.
Na mesma conversa, a procuradora Carolina Rezende desaconselha ofensiva contra o Supremo Tribunal Federal naquele momento. "Não temos como brigar com todos ao mesmo tempo. Se tentarmos atingir ministros do STF, por exemplo, eles se juntarão contra a LJ Lava Jato, não tenho dúvidas. Tá de bom tamanho, na minha visão, atingirmos nesse momento o ministro mais novo do STJ Marcelo Navarro Ribeiro Dantas. Acho que abrirmos mais uma frente contra o Judiciário pode ser over", diz.
Em outra sequência de mensagens, trocadas em setembro de 2016, o então coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, avisa aos colegas que havia se reunido com Moro e que o ex-juiz estava irredutível sobre o prazo para apresentação da denúncia contra Lula por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do Sítio de Atibaia. "Tem que ser feito", avisa aos procuradores.