Estadão

Mudança de meta pode ser interpretada como mudança para ganhar flexibilidade, diz Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, evitou nesta segunda-feira, 22, tecer avaliações sobre uma possível mudança da sistemática de meta de inflação de ano-calendário para contínua, como vem sendo defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Em seminário do jornal <i>Folha de S.Paulo</i>, ele disse que o processo é definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), onde o BC tem apenas um voto, mas voltou a alertar para movimentos em momentos de questionamentos, o que podem trazer desdobramentos negativos.

"Faz parte das regras do jogo o governo definir a meta que quer ter e o BC ter as ferramentas de forma autônoma para perseguir inflação. Seria muito conflituoso o BC decidir própria meta", disse Campos Neto. "O governo tem autonomia para decidir a meta, o BC atua como conselheiro. Não cabe ao BC comentar se uma é melhor que a outra", completou.

Campos Neto afirmou, porém, que é preciso se atentar para as alterações que são feitas em momentos de "questionamento". "Às vezes, mudanças feitas para gerar eficiência podem ser interpretadas como mudanças para ganhar flexibilidade. Temos elementos históricos de que esse não é caminho. Melhor caminho é perseguir a meta e melhorar eficiência do regime", disse, citando o caso da Argentina, onde as expectativas inflacionárias e a inflação subiram e o câmbio despencou.

Sobre uma elevação do nível da meta, o presidente do BC destacou que há uma discussão global sobre o tema em meio ao choque inflacionário da economia. Alguns defendem a mudança, enquanto outros argumentam que a alteração poderia gerar a impressão errada, aumentando os prêmios de riscos das expectativas ante a meta. "O BC debateu isso internamente e entende que mudar a meta para cima não traria flexibilidade", repetiu.

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