Estadão

Powell reconhece progresso em direção à estabilidade de preços, mas vê inflação alta nos EUA

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, reconheceu nesta sexta-feira, 25, os recentes progressos em direção à estabilidade de preços nos Estados Unidos, mas alertou que a inflação permanece "muito alta" em um cenário marcado por incerteza. Os comentários foram feitos em discurso durante o Simpósio de Jackson Hole.

Powell explicou que o arrefecimento inflacionário depende principalmente da normalização da demanda e da resolução das distorções de oferta. "Embora estas duas forças estejam agora a trabalhar em conjunto para reduzir a inflação, o processo ainda tem um longo caminho a percorrer, mesmo com as leituras recentes mais favoráveis", ressaltou.

O dirigente admitiu que as leituras mais baixas do núcleo de inflação em junho e julho foram "bem-vindas", embora dois dados sejam apenas o "começo" do que será necessário para garantir confiança no processo.

Segundo ele, ainda não é possível saber de forma definitiva a que ponto a desinflação é sustentada e onde os preços vão se acomodar. "O núcleo de inflação dos últimos doze meses ainda é elevado e há ainda um terreno substancial a percorrer para regressar à estabilidade de preços", comentou, acrescentando que os preços de energia e alimentos são muito influenciados por fatores globais voláteis.

De acordo com Powell, a inflação de bens em seu núcleo permanece elevada, apesar da acentuada desaceleração nos últimos meses. "É necessário um progresso sustentado e é necessária uma política monetária restritiva para alcançar esse progresso", pontuou ele, que vê um período de crescimento econômico abaixo do potencial e enfraquecimento do mercado de trabalho para assegurar esse objetivo.

<b>Nível atual dos juros neutros</b>

O presidente do Federal Reserve disse ainda que não é possível identificar com precisão o nível atual dos juros neutros, ou seja, a taxa que não estimula nem comprime a atividade econômica. "E, portanto, há sempre incerteza sobre o nível exato de restrição da política monetária", destacou, durante o discurso no Simpósio de Jackson Hole.

Powell reforçou que a inflação a 2% é e continuará sendo a meta do banco central norte-americano. "Estamos empenhados em alcançar e manter uma orientação de política monetária que seja suficientemente restritiva para reduzir a inflação para esse nível ao longo do tempo", destacou.

O banqueiro central considera "desafiador" definir o momento exato em que essa postura é alcançada. No momento, os juros reais estão positivos e bem acima das estimativas mais aceitas para a taxa neutra. "Vemos a atual postura política como restritiva, exercendo pressão descendente sobre a atividade econômica, as contratações e a inflação", pontuou ele, que disse que o Fed está "atento" aos sinais de economia forte nos EUA.

<b>Relaxamento do mercado de trabalho</b>

O presidente do Federal Reserve alertou, durante o discurso em Jackson Hole, que eventuais indícios de que o aperto no mercado de trabalho americano não está arrefecendo poderiam justificar uma resposta da política monetária, possivelmente com mais aumento de juros. Powell ressaltou que o reequilíbrio do emprego nos EUA continuou em curso ao longo do último ano, embora permaneça incompleto.

Segundo ele, a oferta de trabalhadores melhorou, diante do aumento na taxa de participação entre pessoas de 25 a 54 anos, além de um aumento da imigração aos níveis pré-pandemia.

Esse processo ajudou a reduzir as pressões salariais, de acordo com ele. Ainda assim, há riscos: "Mesmo com o abrandamento do crescimento dos salários nominais, o crescimento dos salários reais tem aumentado à medida que a inflação cai", destacou ele, que espera o contínuo reequilíbrio do mercado de trabalho.

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