O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, sugeriu nesta terça-feira, 31, que uma coalizão de países do Oriente Médio ou agências internacionais poderia assumir temporariamente o controle de Gaza após a derrota do Hamas. Em audiência no Senado americano, ele disse, porém, que o ideal seria que o governo ficasse a cargo da Autoridade Palestina (AP), que atualmente tem controle limitado de partes da Cisjordânia.
"Em algum momento, o que faz mais sentido é uma Autoridade Palestina revigorada e efetiva ter responsabilidade sobre a governança e segurança de Gaza", disse Blinken. "Ainda é questionável se essa alternativa é viável no curto prazo. Se não for, há outros arranjos temporários, que podem envolver outros países da região. Agências internacionais também poderiam ajudar."
A grande questão sobre o pós-guerra envolve o que fazer com Gaza caso realmente o Hamas seja derrotado. Segundo Blinken, o único consenso entre americanos e israelenses é de que o governo do território não pode voltar a ser de Israel, como era antes de 2005.
Na semana passada, documentos do governo israelense, divulgados pela imprensa local, sugeriam um plano de transferência de civis de Gaza para acampamentos no Deserto do Sinai, no Egito. O presidente egípcio, Abdul Fatah Khalil al-Sissi, já rejeitou a ideia.
<b>Dificuldades</b>
O Egito, segundo Sissi, não pretende acolher uma onda de refugiados palestinos. Ele teme que radicais possam continuar a lançar foguetes contra Israel, que retaliaria com ataques ao território egípcio.
Além disso, o governo teme que os israelenses queiram repetir a expulsão em massa de civis realizada nos primeiros anos do Estado de Israel.
Além disso, a alternativa preferencial dos EUA esbarra na própria direção da AP. Na segunda-feira, o primeiro-ministro, Mohamed Shtayyeh, rejeitou a possibilidade de assumir o controle de Gaza caso não haja uma solução que envolva a Cisjordânia. "Deveríamos permitir que a AP assuma o controle de Gaza como se estivéssemos embarcando em um tanque israelense?", ironizou Shtayyeh. "Eu não aceito isso."
O problema da estratégia é de que ela vai contra a política do governo do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, que nos últimos anos fez de tudo para enfraquecer o poder da Autoridade Palestina, liderada pelo presidente, Mahmoud Abbas, ao permitir que o Hamas mantivesse o controle sobre Gaza.
<b>Radicalismo</b>
Mais moderada que o Hamas, a AP estaria mais propensa a negociar um acordo de paz, o que não é do interesse de parte da coalizão de extrema direita de Netanyahu – alguns ministros israelenses defendem a anexação da Cisjordânia e a expulsão dos palestinos.
Foi no contexto da dificuldade em encontrar uma solução que Blinken sugeriu ontem um consórcio internacional para administrar Gaza. Nessa solução temporária, países árabes teriam a custódia do território até que a AP assumisse. Outra alternativa seria um mandato de uma força de paz internacional, provavelmente das Nações Unidas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>