Correção: Empresas debaixo dágua; só no comércio, prejuízo pode ser de R$ 110 mi

<i>A nota enviada anteriormente, no dia 10 de fevereiro, continha uma incorreção. O empresário Marcio Dare, de 40 anos, citado no texto, não "perdeu tudo", como havia sido informado, apesar do grande prejuízo que teve na enchente. Segue o texto corrigido.</i>

A chuva que atingiu São Paulo desde a noite do domingo, 9, causa estragos pela cidade visíveis nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira, 10.

Algumas empresas, principalmente as localizadas próximas à Marginal Tietê e Marginal Pinheiros, nas zonas sul e oeste da capital, amanheceram debaixo de água. Enquanto tentam se organizar para manter ao menos parte de sua operação, os negócios contabilizam os prejuízos com a inundação e a falta de funcionários, que não conseguiram chegar ao trabalho.

O varejo da Região Metropolitana de São Paulo, da Capital, ABCD paulista, Guarulhos e Osasco deve deixar de faturar nesta segunda-feira R$ 110 milhões por causa da situação, segundo projeções da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP).

De acordo com o assessor econômico da Fecomercio-SP, Guilherme Dietze, essa cifra corresponde a 11% da receita de um dia das lojas instaladas nessas regiões e 0,40% do faturamento mensal.

Nesse cálculo, o economista considerou lojas que não foram abertas por falta de funcionários, e também outras que abriram, porém com o quadro de pessoal incompleto e que devem registrar movimento muito fraco.

Segundo Dietze, os segmentos mais afetados pelas chuvas são supermercados, farmácias e de compras por impulso, como artigos de vestuário. Já itens de maior valor, como eletrodomésticos, devem ter as compras adiadas.

<b>Ceagesp</b>

A Central de Abastecimento e Entrepostos do Estado de São Paulo (Ceagesp) informa que não tem condições de avaliar os prejuízos causados pelas chuvas e que o balanço das perdas será feito assim que os funcionários puderem ter acesso ao entreposto.

Sabe-se que por dia são descarregados na Ceagesp de 10 mil a 11 mil toneladas de frutas, verduras e legumes. Certamente boa parte desses produtos não conseguiram chegar ao entreposto. Normalmente, na segunda-feira, os estoques nos armazéns dos entrepostos estão baixos por conta do volume pequeno de sobras do fim de semana.

A Ceagesp informa que não haverá na terça-feira a feira de flores , que começa à meia noite. Também a feira de pescados, que normalmente ocorre às 02h00, está cancelada.

<b>Agências debaixo dágua</b>

O presidente da agência Young & Rubicam, David Laloum, disse nesta segunda que os trabalhos da sede principal da agência de publicidade estão completamente parados. A empresa, que fica na Marginal Pinheiros, teve o subsolo e o estacionamento tomados pela água na madrugada desta segunda.

"Tentei ir à agência, pois moro a 1,5 km de distância, mas não consegui chegar porque o nível da água não para de subir", disse ele.

A orientação da Y&R aos funcionários é que permaneçam em casa. A agência vem monitorando a situação, mas a informação atual é que o nível da água continuou a subir ao longo da manhã.

Como parte da rede de computadores da empresa está no subsolo, Laloum disse que existe risco de prejuízo para as operações – a verdadeira extensão do problema só deve ficar clara nos próximos dias, de acordo com o executivo. "Já tivemos um problema parecido, há cerca de 15 anos. Realmente está um caos."

A Y&R tem escritórios em São Caetano do Sul – para atender a conta da Via Varejo – e na Faria Lima. Alguns funcionários conseguiram chegar a esses locais, mas a orientação geral para todos os funcionários da companhia nesta segunda é evitar deslocamentos.

Localizada a poucos metros da Y&R, a agência Ogilvy também foi tomada pela água nesta manhã de segunda-feira. Os funcionários foram orientados a trabalhar de casa e os estragos ainda estão sendo levantados. A companhia tem cerca de 380 colaboradores.

"Realmente está um caos, mas conseguimos manter os sistemas funcionando para que as pessoas tenham condições de fazer home office. O volume de chuvas foi realmente fora do normal", diz Luiz Fernando Musa, presidente da Ogilvy. O executivo frisou ainda que a companhia entrou em contato com os clientes para garantir que demandas que não possam ser adiadas sejam atendidas.

<b>Prejuízo</b>

O empresário Marcio Dare, de 40 anos, teve prejuízos na enchente que atingiu a Grande São Paulo. Ele tem uma companhia de desenvolve maquinários especiais e trabalha com robôs na cidade de Osasco. "Estimo que meu prejuízo foi de mais de R$ 1 milhão", conta.

A MCK Automação Industrial funciona em um condomínio comercial que reúne cerca de 30 galpões. "Todas as empresas foram afetadas."

Ele tem 130 funcionários e diz que vai passar o dia contabilizando os prejuízos. "Tenho seguro, mas não sei se ele vai cobrir esse tipo de episódio. Há pessoas que trabalham no condomínio há mais de 20 anos e contam que nunca viram uma enchente assim. Eu mesmo nunca vivi nada parecido", diz.

Dare afirma que a preocupação é não só com a segunda-feira, mas com os próximos. "Tenho várias encomendas, máquinas de clientes. Não sei como vou entregar isso e nem como vai ser o futuro da companhia. Uma tragédia dessas fez com que muitas pessoas fossem prejudicadas e muitas podem mesmo a vir ficar desempregadas", afirma.

Fabio Luís Schaderle, dono do restaurante Jaguar, no bairro paulistano de Campos Elíseos, decidiu não abrir as portas na segunda-feira. Metade da equipe de funcionários não conseguiu chegar ao trabalho. Também não foram entregues os hortifrutis, que ele compra diariamente. Schaderle, que mora perto do restaurante, teve de ir a pé até o local, porque não conseguiu táxi nem carro de aplicativo.

O empresário diz que não é possível calcular o prejuízo por causa das chuvas. Segundo ele, as perdas não devem se restringir às cerca de 60 refeições diárias que vai deixar de servir. "Estou preocupado com a perda do estoque também", explica. Normalmente, ele tem produtos para um ou dois dias. No caso dos hortifrutis, que são abastecidos diariamente, o empresário está apreensivo com o aumento de preços desses itens que deve ocorrer por causa das perdas e da oferta menor. "Vou ter de mudar o cardápio", prevê.

O alagamento do centro de serviços da Concessionária da Mitsubishi, na Av. Gastão Vidigal, na Vila Leopoldina, danificou quatro carros zero quilômetro que haviam sido vendidos no fim de semana. Segundo a empresa, os veículos serão encaminhados para perda total e os clientes receberão outros carros fabricados pela montadora. Por sorte, o estoque da concessionária não fica no local.

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