Joe Biden derrotou o presidente Donald Trump e a partir de janeiro será o novo inquilino da Casa Branca. A vitória confirmada neste sábado, 7, no Estado natal do democrata, a Pensilvânia, garantiu a ele 273 votos no colégio eleitoral, superando os 270 necessários para sacramentar a disputa, conforme projeções de jornais, emissoras de TV e agências de notícia. A transição política, no entanto, será difícil. O presidente americano deu sinais de que não pretende deixar o poder sem antes travar uma guerra nos tribunais.
Trump será o quinto presidente americano a não se reeleger em um século. Na porta da Casa Branca, americanos comemoraram a eleição de Biden, enquanto Trump jogava golfe. O presidente não fez pronunciamento de reconhecimento de derrota. Sem apresentar provas, Trump diz que a eleição foi fraudada e montou um time de advogados para atuar em ao menos cinco Estados. A chapa de Biden e de sua vice Kamala Harris, primeira mulher negra a chegar à Casa Branca, recebeu 74 milhões de votos. Ainda estão pendentes os resultados no Arizona, Carolina do Norte, Alasca e Geórgia.
Logo após ter a vitória projetada na imprensa americana, Biden divulgou uma nota na qual repetiu o cerne de sua campanha: a promessa de que os próximos quatro anos serão uma era de união depois de um período em que a divisão foi estimulada pelo responsável pela Casa Branca. "Com o fim da campanha, é tempo de colocar a raiva e a retórica dura para trás e nos unirmos como uma nação", escreveu Biden em pronunciamento divulgado por sua campanha.
Com a vitória na Pensilvânia, a campanha do democrata conseguiu recuperar o chamado Cinturão da Ferrugem, antes conhecido como a "muralha azul" de força dos democratas no Meio-Oeste. A região é emblemática, pois fez de Trump presidente em 2016, mas devolveu a Casa Branca aos democratas quatro anos depois. Biden também abriu espaços no Cinturão do Sol, tipicamente republicano, na Geórgia e Arizona.
Para o cenário eleitoral confuso contribuiu a pandemia global, que matou mais de 235 mil americanos, uma grave crise econômica e protestos contra o racismo e a violência policial. Esses fatores, associados à polarização política, levaram ao mais alto comparecimento às urnas em mais de um século. Uma votação superlativa, que transformou Biden no 46.º presidente americano.
<b>Maior votação da história</b>
O democrata Joe Biden se tornou o presidente eleito com mais votos na história americana – superando o recorde de 69,5 milhões de votos de Barack Obama, em 2008. Ontem, Biden chegou à marca de 74,5 milhões de votos com cerca de 90% da apuração nacional concluída – o que abre espaço para que ele tenha uma votação ainda maior.
Como o comparecimento este ano foi alto, Biden está perto de alcançar outra marca histórica: a maior quantidade de votos por parcela da população. Em 1984, o republicano Ronald Reagan foi reeleito com 53% dos votos em uma eleição com 58,8% de comparecimento, sendo votado por 31,3% da população dos EUA. Após um comparecimento de 66% este ano, as projeções indicam que, se o democrata obtiver 51% dos votos, terá sido votado por 33,7% dos americanos – mais até do que Richard Nixon, que chegou a 33,5% em 1972.
As marcas de Biden são mais impressionantes em razão das críticas que o democrata recebeu o longo da campanha, muitas de membros do próprio partido. Quando se lançou candidato às prévias, no ano passado, alguns o consideravam velho de mais para o cargo – ele faz 78 anos no dia 20 e terá 82 se chegar ao fim do mandato.
Político moderado, com mais de 40 anos de carreira, ele superou também aqueles que acreditavam que o senador Bernie Sanders ou a senadora Elizabeth Warren, ambos ligados aos jovens e aos eleitores progressistas da ala esquerda do partido, seriam capazes de mobilizar muito mais a base democrata.
A votação esmagadora também derruba a linha de ataque de Trump, que passou a campanha chamando o democrata de "Joe Sonolento", fazendo piada com seus comícios discretos, para poucas pessoas, e criticando o fato de Biden passar muito tempo no "porão" de sua casa em Wilmington, no Estado de Delaware. "Nem todo mundo pode se dar ao luxo de viver trancado no porão, como faz o Joe", disse o presidente no último debate.
A campanha de Biden respondia que o candidato não organizava comícios gigantescos, como Trump, em razão do risco de aglomeração durante a pandemia. Nas últimas semanas, o democrata encontrou uma fórmula que deu resultado: discursos feitos para apoiadores em drive-ins e espaços abertos nas grandes cidades, onde as pessoas podiam acompanhar tudo de dentro do carro.
Na reta final, em um desses eventos, ele mostrou bom humor ao postar uma foto no Twitter de centenas de carros em um comício em um drive-in da Geórgia com a seguinte legenda: "Quem deixou toda essa gente entrar no meu porão?".
Em tempos de polarização, no entanto, Biden sabe que foi eleito por um forte sentimento de aversão a Trump. Sua candidatura despontou como favorita contra Trump no auge das crises de saúde e econômica provocadas pela pandemia.
Biden se apresentou ao eleitorado como a solução para tirar o país da crise sanitária e da extrema polarização social. Para isso, prometeu restaurar o compromisso dos EUA com os princípios básicos da sociedade americana, com uma plataforma de busca pela restauração da integridade e da normalidade.
Agora, o maior desafio do democrata é a contenção do coronavírus e a retomada da economia. Ele diz que se reaproximará de aliados e voltará aos fóruns multilaterais para uma abordagem conjunta dos problemas globais. Biden também promete colocar os EUA novamente no Acordo de Paris e fazer da pauta ambiental um eixo de sua política externa.
Com 47 anos de vida pública, Biden cumpriu seis mandatos no Senado e oito anos como vice-presidente de Obama. Com uma vida marcada por tragédias pessoais e superações, sua empatia e proximidade com o eleitorado viraram um forte ativo em uma campanha feita durante uma pandemia que matou mais de 230 mil americanos. Mesmo que sua personalidade não seja eletrizante, ele fecha o capítulo mais importante de sua carreira como o político mais votado da história dos EUA – o que não é pouco.