Estadão

De olho no fiscal, taxas têm queda modesta apesar de mergulho dos Treasuries

Apesar da aceleração do ritmo de queda das taxas dos Treasuries ao longo da tarde, com o retorno da T-note de 10 anos rompendo o piso de 3,80%, os juros futuros locais continuaram a apresentar baixa modesta na segunda etapa de negócios. Houve certa volatilidade após as 16h, com as taxas se afastando das mínimas da sessão, na esteira da divulgação de déficit primário acima do esperado do Governo Central em novembro, em meio a uma liquidez reduzida, como é típico na semana entre o Natal e o Ano Novo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 9,99%, de 10,025% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 caiu de 9,68% para 9,645%, com mínima a 9,62%. A taxa do DI para janeiro de 2029, que desceu até 9,98% na mínima, fechou a 10,01%, de 10,041% no ajuste anterior.

Após a forte queima de prêmios de risco nas últimas semanas, induzida pelo alívio no mercado global de renda fixa diante da expectativa de cortes de juros nos EUA no primeiro semestre de 2024, analistas afirmam que faltam "gatilhos" para uma nova rodada de redução significativa das taxas locais, como mais alívio inflacionário ou sinais mais promissores na área fiscal.

As contas do Governo Central – que reúne Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – apresentaram déficit primário de US$ 39,389 bilhões em novembro – o pior desempenho em termos nominais da série histórica (desde janeiro de 1997). O resultado superou a mediana das estimativas de Projeções Broadcast (-R$ 38,05 bilhões).

Em entrevista para comentar os números de novembro, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que trabalha com déficit primário do Governo Central ao redor de R$ 10 bilhões em dezembro, o que levaria a um saldo negativo de R$ 125 bilhões no ano, o equivalente a cerca de 1,2% do PIB. A meta fiscal de 2024 é de déficit primário zero, algo visto com ceticismo pelos economistas.

Segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o quadro externo, com alívio nas taxas dos Treasuries e o aumento da expectativa de corte de juros nos EUA já no primeiro trimestre, tem ditado o comportamento das taxas locais. "A questão fiscal está em segundo plano. Ninguém trabalha com déficit primário menor que 0,8% no ano que vem, eu acho que vai ser até mais alto, mas isso não está afetando os prêmios como deveria", afirma Lima. "Por enquanto, não tem feito preço. Mas é um risco que pode voltar a incomodar no ano que vem".

À tarde, a assessoria do ministério da Fazenda informou que o ministro Fernando Haddad deve falar à imprensa amanhã, às 10h. Ontem, Haddad disse que divulgaria até esta quinta-feira, 28, as medidas que será encaminhadas ao Congresso para compensar a renúncia fiscal com a manutenção da desoneração da folha de pagamentos, após parlamentares derrubarem veto do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Investidores aguardam a divulgação hoje, às 23h30, na Globonews, de entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à jornalista Miriam Leitão, gravada no último dia 21. A emissora divulgou à tarde um trecho de pouco mais de 30 segundos em sua conta no X (antigo Twitter), no qual Campos Neto diz que, em 2024, seu último ano à frente do BC, "é importante entregar a inflação na meta" e "é importante entregar os juros o mais baixo possível".

"Temos divergência nas projeções, de inflação ao redor de 4% ou de 3,5% no ano que vem, com muita discussão sobre o efeito do El Niño nos preços dos alimentos e incerteza em torno dos preços de energia elétrica. Isso segura um pouco as apostas em aceleração do ritmo de queda da Selic", afirma o economista-chefe da Western Asset.

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