Ao elogiar o sistema de votação da Venezuela, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) relativizou a ditadura no país vizinho. "Maduro deu sinais de eleições justas, com o voto eletrônico ao lado do voto impresso", afirmou Bolsonaro em transmissão nas redes sociais neste domingo, 28, referindo-se a um plebiscito que o ditador Nicolás Maduro convocou no dia 3 de dezembro de 2023.
Na mesma transmissão ao vivo, porém, o ex-presidente mencionou a perseguição aos opositores políticos do ditador venezuelano, com a retirada de vários deles da disputa. Isso, porém, apenas após dizer que o voto impresso havia sido "o primeiro passo" da Venezuela para honra com o compromisso de realizar, no pleito presidencial deste ano, uma eleição livre.
Os principais adversários de Nicolás Maduro nas urnas tiveram os direitos políticos cassados pela Suprema Corte venezuelana. Ao elogiar o voto impresso e falar em "eleições justas", o ex-presidente também desconsiderou que, no país vizinho, as eleições não contam com o respaldo de observadores independentes, não há imprensa livre e os opositores são reprimidos por meio de polícias políticas.
<b>Lula já disse que democracia é conceito relativo ao tratar da Venezuela</b>
O plebiscito ao qual Bolsonaro aludia foi uma consulta popular sobre a anexação do território do Essequibo, de soberania da Guiana. Não é a primeira vez que Bolsonaro se refere ao plebiscito sobre Essequibo para reforçar a tese em favor do voto impresso. No dia 8 de dezembro de 2023, em entrevista à Mitre, emissora de rádio argentina, o ex-presidente alegou que Nicolás Maduro "deu uma lição de moral" no Brasil ao adotar o voto em papel. Bolsonaro estava na Argentina para a cerimônia de posse do presidente eleito Javier Milei.
Ao relativizar a ditadura venezuelana, Jair Bolsonaro incorre na mesma opinião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista à Rádio Gaúcha em junho de 2023, o petista foi questionado sobre a proximidade de setores da esquerda com o regime no país vizinho. Em resposta, afirmou que "o conceito de democracia é relativo", alegando que qualificar a Venezuela como ditadura era uma "narrativa".
O petista também usou as eleições convocadas por Nicolás Maduro como justificativa para o seu ponto de vista. "A Venezuela tem mais eleições do que o Brasil. O conceito de democracia é relativo para você e para mim. Eu gosto de democracia, porque a democracia que me fez chegar à Presidência da República pela terceira vez", disse Lula à rádio.
<b>O que Bolsonaro já disse sobre voto impresso</b>
Ao recorrer até mesmo ao sistema eleitoral de uma ditadura para qualificar a ideia do voto impresso, Jair Bolsonaro insiste na tese que o levou à inelegibilidade. Em 18 de julho de 2022, o então presidente convocou uma reunião com embaixadores estrangeiros para colocar em suspenso o sistema eleitoral do País.
O episódio foi denunciado na Justiça Eleitoral por partidos de oposição e, em junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) cassou os direitos políticos do ex-presidente por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
Desde a implementação da urna eletrônica no País, em 1996, nunca houve prova ou evidências de fraudes envolvendo o sistema, mas a alegação de que o sistema eleitoral era falho permaneceu no discurso de Jair Bolsonaro durante ano. Enquanto presidente, ele chegou a patrocinar uma iniciativa parlamentar do gênero, mas a proposta acabou rejeitada pela Câmara dos Deputados. E, mesmo derrotada no Legislativo, ele continuou a utilizar a tese em discursos inflamados para apoiadores.