Os reclusos do Centro de Detenção Provisória (CDP) II de Guarulhos, alunos do Ensino Médio, aprendem na teoria e na prática o que é sustentabilidade ambiental. A ação contou com o apoio das Secretarias da Administração Penitenciária (SAP) e da Educação (Seduc). O estabelecimento penal faz parte da Coordenadoria das Unidades Prisionais da Região Metropolitana de São Paulo (Coremetro).
A partir de um plano de trabalho único, com foco na temática “Meu Papel no Desenvolvimento Sustentável”, os professores da Escola Estadual “Francisco Antunes Filho”, de Guarulhos, que promovem a formação dos alunos pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) na unidade prisional, encararam o desafio e juntos buscaram soluções para problemas do cotidiano, como a questão das moradias. Coube a cada professor aproveitar ao máximo o projeto e dar o enfoque adequado à sua disciplina.
A partir dessa constatação nasceu o projeto Casa Sustentável com o objetivo de promover o aproveitamento dos recursos naturais e, ao mesmo tempo, mostrar aos alunos envolvidos que a cooperação entre as disciplinas escolares traz bons resultados. Nesse cenário, todos contribuíram com estudos, pesquisas e análises de problemas para a elaboração do esboço.
Foco na preservação
A construção do protótipo de uma casa ecológica trouxe aos reeducandos a visão de que é possível melhorar a qualidade de vida enquanto se preserva o meio ambiente. Como os alunos se encontravam privados de liberdade, o projeto os ajudou a ver o quanto as tecnologias atuais podem contribuir para a conservação ambiental.
A integração de diferentes disciplinas ampliou os conhecimentos. Exemplo disso está nas abordagens complementares dos professores de biologia, química e física. Robson Monteiro, Rebecca Silva e Rafael Bispo Guimarães.
Monteiro trabalhou a percepção de hábitos que visam melhorar a qualidade de vida, enquanto Rebecca levantou a questão do uso consciente dos recursos naturais e o reaproveitamento de insumos recicláveis. Juntos promoveram a análise de possíveis soluções associadas à utilização racional de energia elétrica, como a conservação para uso em projetos sustentáveis e a transformação de energia solar em elétrica.
Coube à disciplina de Matemática o enfoque para a construção ecologicamente adequada. Os professores Édson Macedo e Ana Paula Silva promoveram pesquisas quanto aos vários exemplos de casas sustentáveis. De forma prática, os alunos aplicaram os conhecimentos matemáticos com relação ao custo-benefício envolvido na construção. E eles foram além: utilizaram diferentes registros e representações matemáticas na construção de plantas baixas e verificaram a viabilidade do processo.
Mão na massa
Chegou a hora de colocar a teoria na prática. Segundo relato da equipe de professores envolvidos com a atividade, foi feita uma sondagem junto aos alunos para saber das habilidades de cada um. Na sequência, os estudantes desenharam a planta de uma casa-modelo para a aplicação do projeto. O passo seguinte foi uma votação para a escolha da planta ideal para a montagem da maquete.
Para a construção do protótipo residencial foram usados materiais recicláveis, como papelão, papel sulfite, palito de sorvete, dentre outros itens. Foi necessário reduzir em 25 vezes o tamanho original de modo que a maquete coubesse em uma mesa escolar.
A preocupação com a sustentabilidade esteve presente também na rede elétrica da casa. De acordo com o relato da equipe de educação, os estudos preliminares feitos pelos alunos indicaram que a melhor opção seria fazer uso de lâmpadas de LED (Diodo Emissor de Luz) para a montagem de painéis solares, já que quando expostas à luz do sol essas absorvem energia que pode ser canalizada para o uso diário na residência ou armazenada em baterias.
A partir dessa constatação, os alunos desenvolveram um painel solar composto por 40 lâmpadas de LED. Juntos eles fizeram o circuito elétrico de tomadas, interligando a casa ao painel, incluindo três pilhas recarregáveis.
Os estudantes envolvidos com o projeto aprovaram cada etapa do estudo. O recluso Pedro relatou, por exemplo, que o trabalho executado foi de grande ajuda para entender todo o processo de planejamento de uma moradia sustentável. Na opinião de outro aluno, Jorge, a lição aprendida é que a energia renovável ajuda a diminuir o uso desnecessário de alguns materiais, evitando o desperdício.