Os juros futuros fecharam em alta em praticamente toda a extensão da curva, salvo nos contratos de 2030 em diante que encerraram perto da estabilidade. As taxas até desaceleraram o ritmo a partir do começo da tarde, após relatos da reunião do presidente Lula com os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) sobre a agenda de revisão de gastos, mas que não dissiparam a desconfiança na área fiscal. O exterior, com avanço dos juros dos títulos nos EUA e na Europa, e a Pesquisa Focus, com piora das medianas de IPCA, também influenciaram o desempenho das taxas.
No fechamento, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,690%, de 10,653% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,28% (de 11,19%). A taxa do DI para janeiro de 2027 subia a 11,59%, de 11,51% no último ajuste. A do DI para janeiro de 2029 avançava de 11,91% para 11,94%.
A maior pressão sobre a curva se deu na parte da manhã. Na expectativa pela agenda de revisão de gastos prometida pelo Planejamento e pela Fazenda, o mercado optou, na esteira de resultados negativos do Boletim Focus, por recompor parte dos prêmios devolvidos ao fim da semana passada.
À tarde, o avanço perdeu ímpeto após as declarações de Haddad e Tebet sobre a reunião que tiveram com o presidente Lula e com os ministros que compõe a Junta de Execução Orçamentária (JEO). O objetivo do encontro era municiar o presidente, que estava na Europa na semana passada, de informações sobre a atual situação das despesas.
Segundo Haddad, Lula se "apropriou" dos números sobre a evolução de gastos federais com "bastante atenção", e abriu um espaço classificado como "importante" para a discussão do tema. De acordo com Tebet, o presidente teria ficado "mal impressionado" com o aumento da renúncia fiscal e que possíveis soluções para a elevação das despesas serão apresentadas a ele na próxima reunião da JEO. Ainda, Lula teria pedido aos ministros empenho na votação da regulamentação dos dois projetos de lei complementar da reforma tributária, em meio à proximidade do recesso parlamentar.
Por mais que Lula possa ter mostrado boa vontade em avaliar o assunto e tenha elogiado Haddad na semana passada, o mercado evita recompor posições vendidas antes de ver ações concretas. "Lula tem sido vago nas declarações e o mercado não acredita que se mexerá nos gastos obrigatórios, que é onde está o grande potencial de ajuste mas têm um grande custo político", afirma o diretor de Investimentos da Nomos, Beto Saadia.
No Podcast Diário Econômico, o economista-chefe do PicPay, Marco Antonio Caruso, afirma que a atual "minicrise de confiança" lembra a do começo do ano passado antes da apresentação do arcabouço fiscal. Depois de divulgada a peça, parte do mercado resolveu comprar as regras e os ativos melhoraram, porque representavam "a vitória de uma certa racionalidade econômica sobre a política". "Então, o segredo agora seja talvez o governo reforçar o apoio à Fazenda, ao Planejamento e à racionalidade econômica", afirma Caruso, para quem as promessas de Tebet e Haddad de acelerar o corte de gastos são um primeiro passo, ainda que as medidas sugeridas até agora sejam insuficientes para garantir sustentabilidade fiscal a longo prazo.
Na agenda, o destaque foi a pesquisa Focus, que trouxe aumento das medianas para o IPCA de 2025 e 2026 a dois dias da decisão do Copom. Para este ano, a projeção de 3,96% já flerta com os 4%, enquanto a do próximo atingiu 3,80%, ambas se distanciando da meta de 3%. As expectativas para a Selic também subiram. Os economistas agora não veem mais cortes para a taxa este ano segundo a mediana, que passou de 10,25% para 10,50%, algo que a curva já vinha precificando desde a última reunião do Copom. Para 2025, a mediana subiu de 9,25% para 9,50%.