O São Paulo vai conhecer seu novo presidente neste sábado com a eleição disputada entre Julio Casares e Roberto Natel. Quem ganhar o pleito realizado no Morumbi assume o clube no primeiro dia de 2021 e terá mandato pelos próximos três anos. Na boca de urna, o favorito é Julio Casares, que teve a maioria (74 a 26) dos 100 conselheiros eleitos na Assembleia Geral do último dia 28. Mais 151 conselheiros vitalícios têm direito a voto no clube, totalizando 251 pessoas responsáveis pela definição do substituto do atual presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco.
Independentemente de quem ganhar, já dá para apontar alguns caminhos que o clube deve seguir. A comissão técnica encabeçada por Fernando Diniz permanecerá, até porque o time lidera o Campeonato Brasileiro e está na semifinal da Copa do Brasil. Depois da ida de Rogério Ceni para o Flamengo e do bom trabalho nos últimos meses, levando o time para a liderança do Nacional, o treinador ganhou força. O departamento de futebol, porém, passará por mudanças antes mesmo do fim da temporada, em fevereiro. O atual gerente Alexandre Pássaro vai puxar a fila da reformulação. O diretor executivo de futebol Raí também deve sair, acabando seu ciclo.
Caso Julio Casares seja eleito, Muricy Ramalho vai voltar a trabalhar no São Paulo e terá a função de coordenador técnico. O ex-treinador tricampeão brasileiro pelo clube deixou o cargo de comentarista do Grupo Globo na semana passada após aceitar o convite de Casares. Para a diretoria de futebol, Rodrigo Caetano, hoje no Internacional, é o mais cotado para comandar o departamento.
Se Roberto Natel for eleito, Marco Aurélio Cunha assume o cargo de diretor de futebol e Alexandre Pássaro sai. Em relação a Muricy Ramalho, o candidato disse que ainda não realizou contato com o ex-treinador, mas fez elogios e abriu as portas para o retorno dele ao São Paulo.
Os outros profissionais do departamento de futebol são o diretor adjunto Fernando Chapecó e o diretor de relações institucionais Lugano. A continuidade deles depende do resultado da eleição. Chapecó é conselheiro ligado a Casares, mas não está garantido no cargo mesmo se Casares for eleito. Já o uruguaio Diego Lugano tem boa relação com Marco Aurélio Cunha e deve permanecer apenas se Natel ganhar o pleito.
Em entrevista ao <b>Estadão</b>, Julio Casares e Roberto Natel confirmaram as prováveis mudanças no São Paulo. Ambos não se consideram candidatos de situação, mas Casares é o mais próximo da atual gestão. Natel é o vice do presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, mas eles racharam ainda nos primeiros meses da gestão iniciada em 2018.
"O que posso assegurar é que o Diniz continuará como técnico do São Paulo. É um trabalhador nato, tem ótimo ambiente com os atletas e colocou a equipe na briga pelo Brasileiro e pela Copa do Brasil. Não é de hoje que o trabalho dele me agrada, venho falando isso há meses, apesar de alguns percalços que demandaram ajustes", afirmou Casares.
"De qualquer forma, conseguimos 74% dos conselheiros eleitos na Assembleia Geral com uma campanha pautada na reestruturação, sobretudo do departamento de futebol, que vai precisar mudar procedimentos, se modernizar. Esse é um compromisso nosso. Faremos uma avaliação criteriosa caso seja confirmada nossa vitória. Será uma avaliação do trabalho como um todo, não gosto de avaliar nada por um mês bom ou ruim, por esse ou aquele resultado", acrescentou.
Natel disse que, se eleito, as trocas no departamento de futebol serão realizadas após análise de Marco Aurélio Cunha. "A primeira mudança é que o Pássaro deixará o São Paulo porque o Marco Aurélio vai assumir como diretor de futebol. O resto a gente tem conversado bastante, ele tem falado com o Raí e com o Lugano. Sobre o Muricy, é uma pessoa simples, de caráter e respeito e deve voltar ao São Paulo um dia, mas em nenhum momento tive uma conversa com ele", afirmou o candidato, que também elogiou o trabalho de Fernando Diniz. "É muito interessante, é um técnico que vai ter uma grande sequência".
FUTURO DO MORUMBI – Os dois candidatos prometem modernizar o Morumbi, que perdeu o posto do principal palco de grandes shows em São Paulo para o Allianz Parque, a casa do Palmeiras. A dívida de quase R$ 600 milhões do clube, entretanto, impede grandes obras na casa tricolor.
Casares disse que só vai realizar grande obra no Morumbi com investimento do setor privado, mas apontou as mudanças que vai implantar no estádio caso seja eleito. "Um exemplo: nós vamos inaugurar o Camarote dos Ídolos, local privilegiado do estádio para os grandes nomes da história do clube e que merecem ter seu lugar garantido quando quiserem ir ao estádio. E o torcedor que quiser assistir a jogos ao lado desses ídolos, obviamente pagando um valor mais alto, terá um serviço premium. Essa receita abrirá espaço para que nós tenhamos o setor popular, com 8 mil ingressos a preços mínimos em todas as partidas. Além disso, vamos melhorar a precificação do aluguel para shows para competir em igualdade de condições com as arenas. O estádio é nosso, está pago, então podemos cobrar menos e trazer um volume maior de shows".
Natel também falou sobre a volta dos grandes shows ao estádio tricolor. "Vamos fazer ajustes no Morumbi para voltar a ter shows. Tenho conhecimento do que é necessário para voltar a ser concorrente do Allianz Parque e vamos trabalhar para que tenha eventos também durante a semana. A ideia é ter um estádio inteligente, com comunicação via internet. Não vai ter obra absurda, mas vamos adequar o estádio para as pessoas entrarem e saírem tranquilamente".
MARKETING E SÓCIO-TORCEDOR – O programa de sócio-torcedor do clube foi bastante criticado pelos candidatos, que projetaram reformulação completa. Eles também prometeram grande mudança nos marketing do clube, com contratação de "profissionais qualificados" para atrair o interesse de parceiros comerciais e estreitar a relação com os torcedores.
Casares, que foi vice de marketing na gestão de Juvenal Juvêncio, apresentou as propostas. "O marketing é um dos pilares do nosso plano de gestão. Teremos uma equipe qualificada, com um diretor-executivo de mercado, com a missão de entender os perfis dos nossos clientes e o tipo de produto que podemos oferecer para eles. Uma das missões do departamento será refundar o programa de sócio-torcedor, que terá 100% da sua receita líquida usada no futebol. Vamos entender que o sócio-torcedor do São Paulo não tem um perfil único, mas vários, e desenvolver planos que façam sentido para cada um deles. Vamos dar também uma atenção especial àquele torcedor que mora longe e não pode estar sempre no Morumbi. Somos pioneiros neste tipo de projeto e ficamos para trás. Temos uma larga margem de crescimento e vamos trabalhar por ela".
Natel projeta, ainda, planos para o sócio-torcedor ter direito a voto na eleição para a presidência. Atualmente, apenas os associados do clube escolhem os conselheiros, responsáveis por eleger o novo mandatário. "Vai ser uma mudança radical no marketing, que vai passar a ter um executivo do ramo, contratado por meritocracia. Vou trazer um diretor com referência no mercado, colocar profissionais da área. Hoje o São Paulo não tem isso. O programa de sócio-torcedor também vai ser reformulado. O São Paulo não tem olhado para os sócios-torcedores, não os conhece e precisa conhecer. Vamos criar novos planos e fazer um projeto muito forte para que o sócio-torcedor também consiga votar para presidente".
OS CANDIDATOS – Julio Casares tem 59 anos e é advogado, mas fez carreira na área de marketing de canais de televisão. Foi superintendente do SBT por 12 anos e atualmente é diretor comercial da Record. No São Paulo, foi diretor de marketing na gestão de Juvenal Juvêncio e vice geral na gestão de Carlos Miguel Aidar.
Roberto Natel, sobrinho-neto do ex-governador de São Paulo Laudo Natel, tem 59 anos e é empresário. No São Paulo, foi vice de Carlos Miguel Aidar, mas renunciou após as denúncias de irregularidades contra o então presidente. Atualmente, é vice de Carlos Augusto de Barros e Silva, embora tenha rachado com ele ainda em 2018.
A ELEIÇÃO – Neste ano, em razão da pandemia do novo coronavírus, a eleição será realizada em caráter excepcional, com votação por drive-thru e sem a presença dos conselheiros no auditório do Salão Nobre do Estádio do Morumbi. O horário de votação é entre 10h30 e 16 horas. Além do presidente, serão eleitos três novos membros do Conselho de Administração e a Mesa do Conselho Deliberativo.