Voltar ao trabalho presencial com as escolas ainda fechadas virou um dilema para quem tem filhos. A situação fica mais complicada porque, desta vez, não é possível contar com aquela ajuda salvadora dos avós, grupo de risco para a covid-19. As soluções, algumas vezes, estão longe do ideal. É o caso das mães que pedem demissão para ficar com as crianças ou de casais que fazem ginásticas no trabalho.
Há cerca de três semanas, Marina Melo, de 31 anos, teve de deixar o emprego como auxiliar de departamento pessoal depois que soube que precisaria voltar ao escritório, em Caraguatatuba, litoral paulista. "Fui lá, conversei. Perguntaram se tinha opção. Mas não tenho. Fiquei chateada. Senti que estava abrindo mão de novo do meu futuro."
Marina é mãe de Maria Júlia, de 11, Henrique, de 5, e Maria Vitória, de quase 2. Antes da quarentena, os mais velhos se dividiam entre escola e babá, enquanto a caçula ficava na creche. "Não tenho como pagar alguém para estar com os três em tempo integral." Ela pede que se tenha mais empatia por quem está passando pelo problema. "Achavam que eu estava sendo privilegiada (ao fazer home office por mais tempo). É uma situação atípica. Precisamos pensar no outro."
Também obrigada a deixar o emprego, Martha Pereira dos Santos, de 38, concorda. "Acho difícil dizer que alguém não está tendo dificuldade. Para quem tem filho, é complicado." Moradora de Guarulhos, na Grande São Paulo, ela ainda estava em período de experiência quando a quarentena começou. E avaliou que não conseguiria continuar as atividades com seus filhos, de 12 e 2 anos, fora da escola e da creche. "Estava tudo dando certo. De repente, parou", relata. "Já falei para o meu marido: este ano será praticamente perdido."
Há, ainda, as famílias que estão fazendo adaptações. Os advogados Marcelo Escobar, de 43, e Laura Barros, de 41, flexibilizaram as agendas para ficar com Dora, de 5, e Bento, de 1 ano e meio. "A gente precisa fazer uma ginástica enorme. Às vezes temos compromisso no mesmo horário", conta Escobar. Ele está preocupado com a reabertura. "Não tem a menor condição. A minha mãe é grupo de risco ao cubo. Os pais da minha esposa são a mesma história."
Já a fisioterapeuta Juliana Albano, de 32, voltou a atender na sua clínica há cerca de três semanas. Enquanto trabalha de manhã, os filhos Raphael, de 2, e Gustavo, de 9, ficam com a sobrinha adolescente Nicolly, que passou a residir com eles nos dias úteis. "Esse ir e vir é complicado. Por isso, ela fica lá em casa a semana toda. É uma companhia para os meninos. Comida e essas coisas eu faço."
Além do suporte de parentes, alguns buscam ajuda profissional. Dona de uma agência de babás e domésticas na capital, Ana Paula Reismann diz que muita gente voltou a procurar o serviço em junho. "A maior parte só vai colocar os filhos na escola no ano que vem."