As cerca de 100 obras de arte apreendidas em endereços ligados aos filhos do ex-senador e ex-ministro de Minas e Energia nos governos petistas Edison Lobão na Operação Vernissage, fase 79 da Lava Jato, foram entregues nesta quinta-feira, 14, ao Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
De acordo com a Polícia Federal, que encabeçou a operação, uma análise preliminar identificou peças dos artistas contemporâneos Sandra Cinto, Mariana Palma, Vânia Mignone e Vik Muniz, além de Lygia Clark e Alfredo Volpi, ícones do modernismo brasileiro, e ainda de Adriana Varejão, Anna Bella Geiger, Beatriz Milhazes, Iberê Camargo e Renê Machado. As obras vão passar por uma perícia para atestar a originalidade e as condições de conservação.
A transferência dos itens foi autorizada pela Justiça Federal e contou com apoio logístico do Exército através de efetivos do Forte Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, e do 4º Batalhão de Infantaria Leve de Osasco, em São Paulo.
O lote se soma a outros 230 trabalhos que já haviam sido destinados ao museu em fases anteriores da Lava Jato.
A coleção de obras de arte voltou a colocar a família na mira do Ministério Público Federal. A suspeita é a de que as peças tenham sido compradas com propinas pagas por empresas beneficiadas em contratos com a Transpetro, subsidiária da Petrobras, e subfaturadas como uma estratégia para lavar o dinheiro.
As primeiras suspeitas em torno do suposto esquema começaram a aparecer em setembro de 2019 com a denúncia de corrupção e lavagem de dinheiro apresentada pela força-tarefa contra o ex-senador e o filho dele, Márcio Lobão. Na época, Márcio chegou a ser preso na Operação Galeria e mais de uma centena de itens do seu acervo pessoal apreendidos. Desde então, os promotores continuaram trabalhando na tentativa de entender como as obras de arte seriam usadas na lavagem das supostas propinas. Segundo a Procuradoria, análises preliminares indicaram diferenças de mais de 500% entre os valores declarados em imposto de renda e os praticados no mercado.
No curso das investigações, o Ministério Público Federal fechou um acordo de não persecução penal, homologado pela Justiça em setembro do ano passado, com os dirigentes da galeria de arte Casa Triângulo, uma das que atendia os Lobão. A delação permitiu avançar no rastro das obras. Às autoridades, Ricardo Antônio Trevisan e Rodrigo Lobo Sotomayor Editore, sócio e diretor da empresa, admitiram ter subfaturado a venda de quadros e recebido valores por fora, mas negaram desconfiar da possível origem ilícita do dinheiro.