Primeiro integrante do governo brasileiro a comentar a invasão ao Congresso dos Estados Unidos por extremistas pró-Donald Trump, o vice-presidente, Hamilton Mourão, afirmou tratar-se de "questão interna" dos americanos e evitou condenar os atos. "São questões internas dos EUA e que terão de ser solucionadas pelo novo governo e de acordo com a lei", disse o vice ao Estadão.
Diferentemente de líderes de outros países democráticos, como os presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Colômbia, Iván Duque, o presidente Jair Bolsonaro silenciou sobre a invasão do Congresso nos Estados Unidos. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República disse que não comentaria o caso, e o Itamaraty não havia se posicionado até a conclusão desta reportagem.
Até o governo da Venezuela, cujo presidente chavista, Nicolás Maduro, não é reconhecido como legítimo pelos EUA e pelo Brasil, usou a chancelaria para "condenar a polarização política e a espiral de violência" em Washington.
Ao se calar, Bolsonaro repetiu o comportamento que teve quando o presidente eleito Joe Biden, do Partido Democrata, foi apontado como vitorioso na eleição norte-americana. Na ocasião, o republicano Trump, derrotado, contestou o resultado, e Bolsonaro viria a ecoar mais tarde acusações de fraude vocalizadas por Trump, mas nunca provadas.
Sem mencionar diretamente os fatos nos Estados Unidos, assessor especial da Presidência Filipe Martins, principal assessor de Bolsonaro para assuntos internacionais, publicou no Twitter um meme usado por militantes de direita de uma figura fumando e um gorro com a bandeira do Brasil. Logo em seguida, apoiadores do governo comentaram que "a hora iria chegar" por aqui, sugerindo que os mesmos atos poderiam acontecer no País. Minutos depois, porém, Martins apagou a postagem.
<b>Alcolumbre e Maia criticam invasão</b>
Mais uma vez, autoridades dos poderes Legislativo e Judiciário brasileiros condenaram a invasão nos EUA. O presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), chamou o episódio de tentativa de insurreição e disse que o protesto é inaceitável.
"As imagens da invasão ao Congresso americano, em uma tentativa clara de insurreição e de desprezo ao resultado das eleições por parte de um grupo, são inaceitáveis em qualquer democracia e merecem o repúdio e a desaprovação de todos os líderes com espírito público e responsabilidade", escreveu Alcolumbre.
No mesmo tom, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chamou o caso de "desespero de uma corrente antidemocrática que perdeu as eleições".
"No triste episódio nos EUA, apoiadores do fascismo mostraram sua verdadeira face: antidemocrática e truculenta. Pessoas de bem, independentemente de ideologia, não apoiam a barbárie. Espero que a sociedade e as instituições americanas reajam com vigor a essa ameaça à democracia", disse o ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso.