Após discurso de Bolsonaro na ONU, entidades ambientais veem danos para o país

Organizações ambientais e políticos criticaram ontem o discurso feito pelo presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Sem citar diretamente o presidente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso disse que o combate ao desmatamento não é escolha política – e sim dever constitucional, assumido pelo País em acordos internacionais.

Mariana Mota, coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, afirmou que Bolsonaro agrava a situação enfrentada pelo Brasil ao minimizar o drama ambiental, piorando ainda mais a imagem do País no exterior. "Ao invés de negar a realidade, em meio à destruição recorde dos biomas brasileiros, o governo deveria cumprir seus deveres constitucionais em prol da proteção ambiental e apresentar um plano eficiente para enfrentar os incêndios que consomem o Brasil", disse.

Bolsonaro disse nesta terça, 22, que é vítima de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal". Dados mostram que o Pantanal registra o maior índice de queimadas desde 1998, quando os incêndios passaram a ser medidos, e a Amazônia volta a se aproximar dos recordes de destruição ocorridos no ano passado. O argumento é o mesmo que tem sido ecoado pela base militar que ocupa o Palácio do Planalto e que é alardeado pelo Ministério da Agricultura e pelo próprio Meio Ambiente: países incomodados com a competitividade do agronegócio brasileiro querem prejudicar a imagem do Brasil.

Bolsonaro disse que "os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação", mas programas que existiam para combater os incêndios foram eliminados pelo governo.

Gabriela Yamaguchi, diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil, disse que o discurso de Bolsonaro foi cheio de "acusações infundadas e ilações sem base científica", afirmando ainda que postura não é condizente com o papel de chefe de Estado. "Como um roteiro de ficção, o discurso uniu palavras-chave das Nações Unidas com descrições de um Brasil que não existiu em 2020, em completo negacionismo da realidade do país e desconsiderando a urgência e seriedade dos desafios globais que o secretário-geral da ONU, Antonio Guterrez, descreveu em sua fala."

O uso de dados distorcidos sobre o meio ambiente também foi lembrado pela diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia. "O governo atual se especializou em disseminar a pós-verdade para eximir-se da responsabilidade pelos graves problemas que o país enfrenta. E isso em nada contribui para que tenhamos as soluções necessárias."

Políticos questionaram a veracidade de pontos levantados pelo presidente, como o valor do auxílio emergencial. "Alguém sabe me dizer qual o brasileiro que recebeu esse auxílio emergencial de US$ 1.000,00 que Bolsonaro falou na ONU?", questionou o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O deputado federal André Figueiredo (PDT-CE), líder da oposição na Câmara, chamou o presidente de mentiroso. "Bolsonaro foi à Assembleia-Geral da ONU para mentir. Será demolido pela imprensa internacional e brasileira."

Líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), assistiu ao discurso junto ao presidente e o parabenizou. "Discurso impecável do presidente, esclarecendo posições de governo com ênfase no meio ambiente", escreveu Barros.

<b>Supremo</b>

Ao encerrar uma audiência pública no STF para tratar da política ambiental brasileira, Barroso afirmou que o Brasil está entre os sete maiores emissores de gases do efeito estufa, mas diferentemente de outras nações em que a emissão está associada ao "progresso, industrialização e consumo", por aqui as emissões decorrem de "atividades criminosas, que incluem desmatamento, extração ilegal de madeira e grilagem de terras".

"Esses são fatos objetivos consensuais. Não são opiniões nem manifestações ideológicas, são fatos, como disse, documentados e consensualmente admitidos. Para resolvermos os nossos problemas, nós precisamos fazer diagnósticos corretos e não criar uma realidade imaginária paralela", afirmou.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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