Um ex-dono de escola ajuda agora antigas concorrentes, que sofreram com a perda de alunos e inadimplência durante a pandemia, a não fecharem as portas. O Educbank, plataforma financeira criada pelo empresário Danilo Costa, banca as mensalidades não pagas e cuida da gestão da escola. Não se trata de empréstimo: a nova fintech oferece capital para que a escola invista para melhorar seu projeto educacional, com formação de professores e tecnologia. Em troca, cobra uma taxa sobre o valor das mensalidades e bom desempenho acadêmico.
Costa acha que é possível ganhar dinheiro e fazer o ensino privado de qualidade chegar a mais gente. "Mesmo que tenham inadimplência, são escolas estáveis, com famílias fiéis, que acabam pagando. Mas injetamos capital para elas não sofrerem com a inadimplência ao longo do ano nem precisarem aumentar as mensalidades", diz.
O foco do Educbank, criado há seis meses, são boas escolas de bairro que cobram em torno de R$ 800 em todo o Brasil. Atualmente, cerca de 90% dos 40 mil colégios privados do País são pequenas instituições, com pouca capacidade de gestão. A ideia, segundo Costa, não é apostar em escolas de elite que já cobram caro e entregam ensino considerado de alto nível.
Com a previsão de aplicar R$ 20 milhões até o fim de 2021, o Educbank prevê acelerar rapidamente e investir até R$ 1 bilhão nos próximos dois anos, dinheiro que virá de capital próprio e de investidores. "Muitas escolas com bom currículo estão abaladas, o dano pode ser irreparável", afirma Costa sobre o período de pandemia, que fechou a educação por dez meses no País.
Segundo o sindicato das escolas particulares de São Paulo (Sieeesp), entre 20% e 30% das escolas de ensino infantil (0 a 5 anos) fecharam em 2020. Isso porque muitos pais tiraram as crianças da escola, pois a lei no Brasil exige a matrícula apenas a partir dos 4 anos. O ensino online para os pequenos também se mostrou inviável, além de contraindicado por educadores.
O presidente do Sieeesp, Benjamim Ribeiro da Silva, diz que é difícil para escolas com problemas financeiros conseguirem crédito em bancos tradicionais. "A maioria são escolas pequenas, muitas são familiares, com menos de 200 alunos, não conseguem consistência contábil", afirma. "A gente enxerga a escola por um outro ângulo", afirma o diretor-presidente do Educbank, Lars Janér.
<b>Auxílio</b>
Um dos primeiros clientes é o Colégio Santa Mônica, em Pirituba, zona norte da capital paulista, que perdeu 50% de seus alunos na pandemia, a maioria deles da educação infantil. "Ainda tive de reduzir as mensalidades. Sustentamos o custo fixo com 40% da receita", conta um dos sócios e diretor da escola, Rodrigo Frediani. Os planos de abrir o ensino fundamental 2 e expandir a escola ficaram paralisados – hoje o colégio atende apenas até o 5º ano.
Frediani soube do Educbank em um grupo de WhatsApp e marcou uma reunião para entender o que a fintech fazia. "Alguns alunos começaram a voltar. Mas a inadimplência é o grande peso que as escolas carregam", afirma. Como é uma relação de longo prazo, não podemos negativar o pai. Também não se pode fazer sanção alguma, como impedir o aluno de frequentar a escola."
Segundo estimativas, cerca de 10% dos pais não pagam as mensalidades em dia na rede particular e isso aumentou na pandemia. O Educbank agora garante todas as mensalidades pagas do Santa Mônica, que tem cerca de 150 alunos, e assumiu o setor de cobranças. Quando as famílias pagam os atrasados, os juros são repassados à fintech. Em troca de assumir o risco pela escola, cobra 5% das mensalidades pagas. O porcentual é estipulado a partir de um algoritmo que leva em conta os riscos de cada escola.
Outros clientes da fintech são colégios do interior de São Paulo, como o Anglo, de Itatiba, e a Escola Divina Providência, em Jundiaí.
Entre as contrapartidas para o investimento estão justamente o alto desempenho em avaliações dos alunos e outros parâmetros de qualidade. Para investir na escola, o Educbank avalia ainda itens como a satisfação dos pais, estabilidade do corpo docente e reclamações em órgãos de defesa do consumidor. Os contratos têm prazo médio de um ano.
<b>Perfil</b>
Costa largou o Direito para empreender e fundar, aos 27 anos, a Vereda Educação. O grupo foi um dos pioneiros das escolas de baixo custo com ensino integral em São Paulo. Ele se desligou da empresa em 2019 e criou o Educbank. Questionado do por que não investir na educação pública, onde estão mais de 80% dos alunos brasileiros, o empresário diz que é já um espaço bem ocupado por fundações e entidades do terceiro setor. "Se não houver um apoio financeiro para escolas privadas, o impacto para a educação pode ser alto, pois vai pressionar a escola pública."
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo</b>.