Uma semana de avaliação do 100% elétrico JAC IEV20, o pequeno carro do fabricante chinês que chegou ao Brasil como o mais barato movido a energia elétrica do mercado, é uma oportunidade para o GuarulhosWeb mostrar aos leitores trazer para o presente o que será realidade em um futuro próximo. Antes de mais nada, é necessário responder à primeira pergunta que se ouve quando se está com este carro: é muito caro? Do ponto de vista de mercado atual, quando se leva em conta os valores de modelos maiores movidos a gasolina ou etanol, a resposta é “sim”. Afinal, com os R$ 130 mil cobrados pelo subcompacto dá para levar para casa um modelo bem superior, tanto em tamanho como em equipamentos oferecidos, entre outros quesitos.
Deixando de lado esse primeiro impeditivo, que pesa bastante na decisão de compra, é hora de perceber as vantagens de andar por aí em um 100% elétrico. O pequeno IEV20 é a versão elétrica do subcompacto J2, um veículo urbano de pequeno porte, que chegou ao Brasil anos atrás para competir entre os menores carros de cidade. Leva, com algum esforço, quatro passageiros e pouca bagagem. Já o o elétrico é ainda um veículo urbano. A JAC informa que a autonomia é de 400 km com carga completa. Trata-se de uma boa distância para quem só usa em meio ao trânsito das grandes cidades. Dá para ir de Guarulhos a Sorocaba duas vezes ida e volta.
Mas o carro elétrico do presente é o futuro. Se você começar a pensar assim, pode até pensar em desembolsar R$ 130 mil para estar à frente de seu tempo. Afinal, não há dúvidas sobre essa tendência, que vai avançando muito rápido. Ele utiliza energia limpa, não emite poluentes e segue a cartilha do que se espera de quem quer defender o planeta. Deixando de lado essa filosofia do “politicamente correto”, vale salientar que a utilização do IEV20 no dia-a-dia é bastante satisfatória e – por que não dizer? – deliciosa. Sem qualquer vibração ou ruído, você desfila pela cidade sem ser percebido (pelo ouvido). É comum você se aproximar de pedestres no trânsito que não notam que tem um carro por ali. Há um bip emitido do lado externo, mas que ainda não é identificável pelas pessoas comuns.
Por não contar com câmbio, o elétrico entrega toda força imediatamente. Lembra dos velhos autoramas, quando o carrinho avança conforme a força que você aplica no gatilho. Conforme se pisa no acelerador, ele vai embora, alcançando o torque máximo de 215 NM num piscar de olhos. Numa subida íngreme, por exemplo, o pequeno JAC avança rápido saltando como uma flecha à frente até de veículos de maior porte e com motores muito mais potentes.
Na rodovia Presidente Dutra, entre Guarulhos e São Paulo, atinge 115 km/h em poucos segundos, avançando de maneira extremamente rápida entre os demais veículos em condições de trânsito livre. Vale salientar que o consumo de energia não se altera quando se trafega em baixas velocidades ou próximo de sua máxima, na casa dos 120 km/h. A autonomia só diminui drasticamente quando se aciona o ar condicionado, condição necessária durante uma tarde de calor e chuva, quando os vidros se embaçam completamente.
Além de ser rápido e esperto, o JAC IEV20 dói pouco no bolso na hora de abastecer. Segundo o fabricante, o custo do consumo de energia elétrica é de algo próximo a R$ 5,00 a cada 100 quilômetros rodados (10KWh para 100km). Este custo se equivaleria a de um carro movido a gasolina que fizesse 90km com um litro do combustível fóssil. Conhece algum? Não, né? Então, é imbatível.
As vantagens também surgem no custo de manutenção, que pode ser até seis vezes mais em conta que um outro veículo a combustão, já que o carro elétrico não conta com câmbio, radiador, filtro de ar, filtro de óleo, filtro de combustível, sistema de escapamento, correias, velas, catalisador, entre outras peças, que se deterioram e precisam ser substituídas ou reparadas ao longo do uso do veículo.
E como reabastecer?
O GuarulhosWeb, ao longo de uma semana de avaliação, só foi “reabastecê-lo” no dia da devolução, mais por precaução do que por necessidade, já que ainda apresentava mais 100 km de autonomia, distância suficiente para percorrer o trecho entre Guarulhos e a concessionária JAC na zona sul de São Paulo. Mesmo assim, a recarga era um dos desafios ao longo da avaliação, já que este jornalista tenta experimentar o máximo que o carro oferece.
Neste sentido, surge um dos primeiros impasses para o dono de um elétrico. Onde e como abastecer? Quanto tempo precisarei esperar? É fácil encontrar pontos de reabastecimento? Pois é. Neste sentido, aparecem algumas dificuldades. A JAC oferece um carregador portátil no porta-malas, compatível com tomadas comuns de 220 volts, que podem ser encontradas em diferentes locais como na garagem de casa ou do trabalho.
Morador de um condomínio residencial, com vagas no subsolo 2, não é de se estranhar a ausência de tomadas de 220 volts disponíveis. E mesmo que elas tivessem lá, não seria justo com os demais vizinhos utilizar a energia elétrica coletiva para o uso pessoal. Os condomínios ainda precisam se adaptar a esta nova tecnologia, oferecendo pontos de recarga coletivo, com medidores, que possam cobrar individualmente de quem usa por meio de cartões. Lógico que essa é uma tendência que deverá estar presente nos novos projetos residenciais e para serem adaptados em outros, onde a demanda assim permitir.
Outra possibilidade para o reabastecimento seria no local de trabalho, onde tomadas de 220 volts poderiam estar acessíveis próximas às vagas de estacionamento. De novo, utiliza-las não seria de bom tom, pois poderia significar o uso indevido da energia elétrica. Vale a mesma lógica para empreendimentos residenciais, onde os carregadores coletivos deverão estar disponíveis em locais de grande fluxo de carros elétricos, o que ainda é pouco comum.
Em Guarulhos, a EDP – concessionária de energia elétrica – oferece, ainda gratuitamente, carregador rápido no estacionamento do Bosque Maia, principal parque da região central da cidade. Dentro da lógica politicamente correta, o ideal seria deixar o IEV20 na vaga carregando, enquanto se realiza uma caminhada ou se pratica exercícios físicos por ali. De quebra, dá para tomar uma água de coco e se hidratar nestes dias quentes do verão. No entanto, esta unidade do IEV20 disponibilizada pela JAC para a avaliação ainda utiliza um sistema chinês de recarga, não compatível com os carregadores disponíveis no Brasil. Em outro equipamento, no estacionamento de uma rede atacadista da cidade, o mesmo problema. Ou seja, nada feito. A JAC esclarece que o veículo avaliado foi uma exceção, já que se tratou de uma das primeiras unidades trazidas para o Brasil. Os novos que estão chegando vêm devidamente adaptados à realidade local.
Desta forma, a solução foi buscar a garagem da casa de um amigo, que tinha disponível a tão desejada tomada de 220 volts acessível. Lá o carro passou uma tarde para recuperar 30% da carga, elevando para mais de 200 km a autonomia na hora da devolução ao fim da avaliação.