Educadores apóiam o uso do conto com mensagens obscenas se acompanhado de orientação pedagógica adequada. Foi o que o Guarulhos Hoje apurou ao repercutir entre pedagogos a polêmica gerada com a entrega do livro "Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século XXI" aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio da rede pública estadual.
A polêmica se deu por conta de trechos do conto "Obscenidades para uma dona de casa", de Ignácio de Loyola Brandão, autor consagrado da literatura. Na opinião do diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Ezio Expedito, o problema não é o conteúdo, mas o processo em que ele chega aos alunos. "O problema é que não há um debate com os professores, que acompanham cotidianamente os alunos".
O educador, que também é diretor do Sindicato dos Professores e Professoras de Guarulhos (Sinpro), reconhece que se trata de um autor consagrado e explica, "sem orientação dos professores, o conteúdo acaba contribuindo com a banalização do assunto [sexo]".
A professora do Colégio Novo Rumo, Raquel Silva, pedagoga e doutora em Letras, frisa que este é um assunto delicado que dá margem a diferentes reflexões. "O conteúdo do livro é adequado aos alunos desde que seja trabalhado de uma forma funcional e didática, pois trata-se de um texto pornográfico".
A professora, que também ressalta a importância do acompanhamento dos pais, explica ainda que há na literatura outros escritores que trataram do tema sexualidade e erotismo, entretanto com linguagens compatíveis com o século em que viviam, como Aloísio de Azevedo, em O Cortiço, e Eça de Queirós, em Primo Basílio. "A diferença é que Ignácio de Loyola coloca a questão em uma linguagem do século XX, o que causa maior impacto".
Roseli Moreira, professora de Pedagogia da UnG, acha importante tratar o texto com os estudantes e reitera, "é importante colocá-los em contato com diferentes gêneros da Literatura, porém, é necessária a discussão em uma ação didática".
Em contrapartida, a opinião da professora Erica Ruiz, do Colégio Eniac, o texto de Ignácio Loyola não é adequado aos adolescentes, mesmo com acompanhamento didático. "Eu não usaria este texto com meus alunos, pois não tem uma linguagem adequada à rotina escolar". Ela acredita haver outros títulos para tratar de sexualidade e diz, "este tipo de linguagem não agrega valores".
Diferente das opiniões dos educadores, para o escritor e jornalista Castelo Hanssen, presidente da Academia Guarulhense de Letras, o livro não traz nada de novo aos adolescentes. "O texto é adequado aos alunos. O que se vê com esta polêmica é um moralismo bobo e desnecessário", afirma.
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