Cidades

Contaminação de solo ameaça áreas próximas a cemitérios de Guarulhos

É o que afirma um estudo elaborado pela advogada Cristiane Barrio Novo, em uma tese de mestrado

Os moradores vizinhos dos cemitérios da Vila Rio, Primaveras I e II correm riscos de serem contagiados por doenças causadas pela contaminação do lençol freático da região, do solo e até por gases tóxicos. É o que afirma um estudo elaborado pela advogada Cristiane Barrio Novo, em uma tese de mestrado.

De acordo com o levantamento, um líquido proveniente da decomposição dos corpos sepultados, denominado necro-chorume, poderia contaminar o solo e, consequentemente, atingir o lençol freático com suas toxinas. Isto se daria pelo fato das sepulturas destes cemitérios, principalmente o da Vila Rio, estarem em desconformidade com uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que especifica distâncias e profundidade em relação ao lençol freático.

Segundo o geólogo e pesquisador Leziro Marques Silva, da Universidade São Judas Tadeu, de 600 cemitérios pesquisados no País, cerca de 15 a 20% apresentam contaminação do subsolo pelo necro-chorume. E destes, 60% dos casos foram observados em cemitérios municipais.

O apontamento gerou preocupação e chamou a atenção da vereadora Luiza Cordeiro (PCdoB), que já resultou no projeto de lei n° 323/2010 sobre a "eliminação das contaminações dos lençóis freáticos e solo nos cemitérios de Guarulhos".

A parlamentar já planeja organizar um seminário com a autora do trabalho para esclarecer dúvidas e dar entrada no projeto na Câmara Municipal. "Existem doenças degenerativas e infecciosas quando a água proveniente da terra se mistura com a água das chuvas e atinge o lençol freático", completa Luiza.

Doenças – Segundo a autora do estudo, o necro-chorume é altamente tóxico e pode ser o condutor de uma epidemia. "Este líquido carrega todas as doenças que a pessoa teve enquanto viva. Quando atinge o lençol freático, afeta muitas populações, principalmente os vizinhos do cemitério", denuncia Cristiane. A contaminação pode causar graves doenças. "Gangrenas de todos os gêneros, infecções tóxico-alimentares, hepatites, patologias gastro-intestinais, viroses, febre tifóide, entre outros", detalha.

Lixos descartados em caçambas oferecem perigo

Coroas de flores, velas, roupas, objetos decorativos e demais coisas que são colocadas nas sepulturas junto aos corpos também são condutores de contaminação. Isso porque muitos entram em contato com o necro-churume ou com gases tóxicos emanados pela decomposição do falecido.

Porém, boa parte deste material é jogado em caçambas, ou seja, destinado como Resíduos Provenientes de Serviços de Saúde (RSS). É o que afirma Cristiane. "Na Vila Rio, o que não se decompôs é jogado nestas caçambas. Mas, como o solo já está contaminado, consequentemente este material também está, ou seja, não pode ser reciclado", alerta.

Solução difícil – O problema não é algo fácil de se tratar. De acordo com Cristiane, seria necessário criar uma malha de drenagem superficial e profunda para drenar a grande quantidade do líquido tóxico. "O cemitério deve também realizar uma análise dos padrões da água de seis em seis meses", afirma.

Há ainda as opções da utilização de necro-blenda, um absorvente do necro-chorume, dentro das sepulturas ou o uso de colchonetes absorventes nas covas, que seriam removidos periodicamente. "O ideal é ver a possibilidade de sustentabilizar os cemitérios e novos sepultamentos já possuírem filtros biológicos a partir de uma determinada data, além de não conferir concessões para cemitérios fora dos padrões", sugere Cristiane.

A reportagem questionou a Prefeitura sobre o assunto, mas não obtevre resposta.

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