Uma área verde, desabitada e fora dos olhares do poder público. Esse é o tipo de local escolhido por pessoas que ocupam áreas irregulares e onde surgem as favelas. Em geral, são moradores de outras cidades ou até estados que querem tentar a vida em Guarulhos.
A comunidade atrás do Hospital Geral de Guarulhos, no parque Cecap, foi uma das que cresceram nos últimos dois anos. Atualmente conta com cerca de 30 barracos, que são atingidos pelas enchentes do rio Baquirivu-Guaçu. Há 10 anos, o ajudante geral Celso Paulino dos Santos, 32, e a dona de casa Daiane Araújo Santos, 25, saíram de Embu, na Grande São Paulo, para tentar a vida em Guarulhos. "Um amigo disse para vir para cá. Só tinha três famílias quando chegamos. Agora tem muita gente e vários viciados em drogas", afirma Santos.
O casal tem cinco filhos. O mais velho tem nove anos e o mais novo, recém nascido, nove dias. "Ainda não registramos ele porque perdemos todos os nossos documentos em uma enchente no fim do ano", explica Daiana. Santos vendeu um barraco na favela no ano passado por R$ 1 mil e comprou outro maior por R$ 2 mil. Ele diz que pretende se mudar no próximo ano. "Me iludi vindo para cá. Guarulhos é uma cidade muito boa, mas para quem é pobre é difícil", afirma.
O motorista José Sebastião Figueira, 54, e a dona de casa Maria dos Anjos Moura Fernandes, 55, ocuparam a área do Cecap em setembro de 1992. Eles vieram de Teófilo Otoni, em Minas Gerais. "Estamos mais afastados dos outros barracos. Não deixamos ninguém invadir o nosso lado", diz Figueira. O motorista conta que não gostaria de sair do local, pois possui plantação de frutas.
Crescimento na comunidade do Cecap repete outras ocupações
O processo de expansão da comunidade do Cecap é parecido com as demais. Uma pessoa ocupa o local e começa a lotear terrenos com conhecidos. Não existem contratos, apenas acordos verbais. Sem autorização pública, os famosos "gatos" de água e energia elétrica ajudam as pessoas a viver com um mínimo de dignidade. Contudo, a falta de saneamento básico e o excesso de sujeira atraem ratos e doenças.
"A condição de vida é inadequada nessas regiões. A Prefeitura tem que tirar as pessoas senão cada um faz o quer na cidade. É preciso investir em habitação social", afirma o presidente da Associação dos Engenheiros, Arquitetos e Agrônomos de Guarulhos, Eduardo Martins.
Levantamento da Secretaria Estadual de Habitação, no ano passado, revela que em Guarulhos há 378 ocupações e 27 loteamentos irregulares.
Outro lado – A Secretaria Municipal da Habitação diz que Guarulhos possui 327 favelas em que moram 54.387 famílias. Dessas, somente menos de 10%, 5.337 famílias são atendidas por programas de urbanização de favelas.
Em nota, a Secretaria afirma que não tem ocorrido a expansão de favelas. "Todo o trabalho e investimento da Prefeitura é para erradicação e congelamento de áreas", afirma a pasta.
A Pasta diz que as negociações para retirada das famílias da favela da Hatsuta estão em andamento com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), enquanto a favela no Cecap é de responsabilidade da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU).