Com Vale ON negociada na máxima a R$ 105,32, e desempenho também positivo para siderurgia, o Ibovespa foi nesta quarta-feira aos 118.303,28 pontos (+0,68%) no melhor momento da tarde, maior nível intradia desde 22 de fevereiro, mas acabou cedendo a nova ameaça de intervenção do presidente Jair Bolsonaro na política de preços da Petrobras, uma reiteração que segurou as ações da estatal no complemento da sessão.
Para piorar, o dólar ganhou dinamismo com a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), elevando a moeda à vista a R$ 5,6549 na máxima da sessão, com a avaliação da autoridade monetária sobre a economia americana fortalecendo a referência ante pares como euro e libra.
Embora abaixo da resistência dos 118 mil, o índice da B3 conseguiu se manter além dos 117 mil pontos pelo terceiro fechamento consecutivo e embora tenha parecido a caminho, pelo segundo dia, de fechamento bem perto do zero a zero, encontrou ao fim leve alta de 0,11%, a 117.623,58 pontos, com mínima a 116.747,95 e abertura a 117.498,87 pontos. O giro ficou em R$ 31,8 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 2,06%, com ganho de 0,85% neste começo de mês, limitando as perdas do ano a 1,17%.
"Prevalecia cautela até a ata do Fomc, com o intuito de avaliar se haveria indicação de movimento de normalização (da política monetária) mais cedo do que o Fed havia anunciado, embora a expectativa fosse de que o documento reiteraria posição cautelosa da autoridade monetária, em cenário de inflação ainda baixa. O que poderia pesar contra isso é a aceleração da retomada econômica, com o avanço da vacinação nos Estados Unidos e o forte nível de estímulos fiscais e monetários, que tem alimentado as expectativas de inflação", observa a economista Paloma Brum, da Toro Investimentos.
Embora, na ata, os dirigentes do Federal Reserve tenham reconhecido a melhora da perspectiva econômica, reiteraram o compromisso com a manutenção de estímulos à atividade, ainda mostrando pouca preocupação com a progressão de preços no país. No documento, os dirigentes do Fed disseram esperar queda nas leituras anualizadas de inflação, após alta transitória, e atribuíram o avanço dos juros dos Treasuries à "melhora de expectativas", bem como à emissão de títulos. Ainda assim, a avaliação sobre a economia americana não passou despercebida, resultando em apreciação do dólar, aqui e fora.
"O Ibovespa encerrou mais uma vez no zero a zero, com volume muito abaixo da média, reflexo de dois mundos na bolsa brasileira: do lado positivo, as empresas de commodities e exportadoras, em mais um dia de alta do minério de ferro e com dados econômicos acima do esperado nas economias desenvolvidas; do lado negativo, economia com fracos resultados aqui, na passagem de fevereiro para março, contrariando o ritmo pelo mundo, além do imbróglio sobre o Orçamento de 2021 e o aumento do risco fiscal, traduzido em mais um dia de inclinação da curva de juros", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Para Rodolfo Carneiro, sócio e assessor da Valor Investimentos, a ata do Fed trouxe "pensamento um pouco mais hawkish", o que resultou em algum "sofrimento" para o câmbio aqui. "A declaração do Bolsonaro sobre a política de preços da Petrobras também pesou, ligeiramente. Mas o pior ponto do dia foi, de fato, essa ata do Fed, com alguma mudança em relação ao comunicado inicial, o que resultou em acréscimo de preço no dólar", acrescenta.
No período da tarde, ao dizer que "podemos mudar essa política de preços na Petrobras", o presidente Bolsonaro contribuiu para reduzir o fôlego do índice da B3, revertendo o ganho da ação PN (-0,08%) e reduzindo o da ON a 0,46% no fechamento, após ambas terem girado em torno de 1% de alta antes das declarações. Destaque nesta quarta-feira para ganho de 2,46% em Vale ON, em dia também positivo para as ações de siderurgia (Gerdau PN +1,89%, CSN +1,84%).
Na ponta do Ibovespa, Braskem fechou em alta de 5,95%, à frente de Minerva (+4,22%) e de Hapvida (+3,89%). Na face oposta, Hering cedeu 3,34%, Rumo, 3,25%, e B2W, 2,96%. O setor de bancos, o de maior peso no Ibovespa, teve desempenho majoritariamente negativo, com perdas moderadas na sessão, até 1,09% (Bradesco PN) – a exceção foi Santander, praticamente estável no fechamento (+0,03%).