O pernambucano Djair de Barros e Silva, o Novelli, é um instrumentista e compositor muito querido no meio da música brasileira. Parceiro de Chico Buarque e Milton Nascimento, o artista gravou poucos discos próprios e fez carreira acompanhando artistas como Elis Regina e Gal Costa. Com uma obra sólida, ele agora é homenageado pela cantora italiana Barbara Casini e por Toninho Horta no disco Viva Eu – As Canções Brasileiras de Novelli.
O álbum é repleto de convidados, amigos de Novelli há décadas. Chico, Danilo Caymmi, Edu Lobo, Francis Hime, Ilessi, Joyce Moreno, Luiz Cláudio Ramos e Nelson Angelo fizeram questão de estar no disco, gravado no Rio de Janeiro em 2019 e agora disponível em plataformas digitais. Com 15 faixas, Viva Eu tem no repertório as músicas mais importantes do compositor e também conta com a presença do músico italiano Giuseppe Fornaroli.
Fã de música brasileira, Barbara já dedicou álbuns inteiros à obra de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Jobim. Cantando em português sem sotaque, a italiana teve a ideia de fazer um disco com músicas de Novelli há 21 anos.
Ela o conheceu durante uma apresentação de Joyce com Toninho, e ficaram amigos. Um repertório chegou a ser escolhido, mas os outros projetos de Barbara e o tempo em que ela ficou sem vir ao Brasil fizeram com que o projeto fosse adiado.
Quando chegou 2018, Barbara não quis mais esperar. "Falei com Novelli que a gente iria fazer um disco de voz e violão e iria colocar meu dinheiro", lembra. Novelli sugeriu que o violão ficasse a cargo do velho amigo Toninho. Os dois dividiram um disco com Beto Guedes e Danilo em 1973. Toninho aceitou o convite. "Para mim, foi uma honra", conta a cantora.
Com o sinal verde de Toninho, Barbara contatou "na cara de pau" artistas que gostaria que estivessem presentes em Viva Eu e marcou três dias de gravação. "Milagrosamente, todos estavam livres naqueles dias", diz ela, ressaltando que deixou os convidados à vontade para participar da música que desejassem.
Chico faz dueto com Barbara no frevo Pelas Ruas do Recife, de Novelli com os irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle. Luiz Cláudio Ramos, maestro da banda de Chico, toca violão na faixa.
Ligado às tradições de Pernambuco por conta dos pais, Edu escolheu cantar com Barbara o samba Reis e Rainhas do Maracatu, de Novelli, Milton Nascimento, Nelson Angelo e Fran – um primo de Milton. Joyce participa de Interior/Exterior, uma das poucas canções do compositor com letra dele.
O poeta Cacaso foi o principal parceiro de Novelli. Viva Eu tem quatro canções da lavra de ambos. Gravada originalmente por Djavan, Triste Baía da Guanabara é interpretada por Barbara e Nelson. Danilo escolheu colocar voz em Sem Fim e Francis toca piano em Profunda Solidão. Barbara canta sozinha Laranja Azeda, música lançada por Edu em 1980, com o violão de 7 cordas de Fornaroli.
Barbara também se lembrou de Linha de Montagem, de Novelli e Chico. "(O diretor) Renato Tapajós convidou o Chico para fazer a trilha do filme Linha de Montagem, sobre as greves dos metalúrgicos no ABC paulista. O Chico me disse: faz uma música comigo porque você é da terra do Lula", recorda Novelli. Ele é do Recife, mas passou parte da infância e adolescência em Garanhuns, onde o ex-presidente, que também foi líder dos metalúrgicos, nasceu.
Outras músicas que podem ser consideradas clássicos de Novelli que entraram no álbum são Baião do Acordar, regravada por Airto Moreira e Egberto Gismonti, e Toshiro, registrada por Milton no disco Clube da Esquina 2 (1978).
A faixa-título, de Novelli e Wagner Tiso, é descoberta recente de Barbara. Viva Eu só tinha sido gravada uma vez, justamente no álbum que Novelli dividiu com os amigos em 1973, e agora volta à tona em registro com a participação de Ilessi.
Novelli foi diariamente ao estúdio para acompanhar o processo. Aos 75 anos, se diz realizado. "Foi uma gravação muito agradável. Sou um sortudo." O álbum deve ganhar uma edição brasileira, ainda sem data de lançamento definida.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>