O presidente Jair Bolsonaro deseja "esticar" a viagem que fará à Polônia e à Hungria, expoentes da direita na Europa e com os quais quer estabelecer uma aliança conservadora, para realizar a vontade pessoal de conhecer a terra dos seus antepassados. De ascendência italiana, ele pretende, entre abril e maio, visitar a região de Lucca, na Toscana, de onde vieram seus avós.
Em conversa com o Estado na quarta-feira passada, Bolsonaro disse, em tom de brincadeira, que gostaria de conhecer "os mafiosos" da família. "É missão do Itamaraty acertar uma data para Polônia. Vamos fazer Hungria e, talvez, Itália. (Quero) Ficar uns dois dias na Itália. Conhecer os mafiosos da minha família", afirmou, rindo, ao se referir à organização criminosa.
Sem contato com os parentes na Itália, a expectativa do presidente é de descobrir outros Bolzonaros, com "z" na grafia em italiano, que vivem por lá. Os antepassados dele chegaram no fim do século 19 e se instalaram no interior de São Paulo, onde trabalharam em fazendas de café. "Nunca fui à Itália. (A origem da família) É a região de Lucca, não conheço. Tenho vontade de ir e conhecer algum Bolsonaro", disse o presidente.
Após a deportação do ex-ativista italiano Cesare Battisti, em janeiro do ano passado, Bolsonaro declarou ao canal RAI, da Itália, que gostaria de participar das comemorações de 8 de Maio, que celebra o Dia da Vitória dos aliados na 2ª Guerra – a Itália, que lutou ao lado da Alemanha, se rendeu em 1943. Disse também que desejava ir a Lucca. Na ocasião, o prefeito da cidade, Alessandro Tambellini, do Partido Democrático, de centro-esquerda, afirmou que Bolsonaro seria recebido com respeito, mas ressaltou: "As ideias políticas dele não são as nossas".
Os parentes do presidente, contudo, podem estar em outra região da Itália, mais ao norte. Em 2018, o prefeito de Anguillara Veneta, Luigi Polo, disse à BBC que encontrou, em sua cidade, registros do nascimento de Vittorio Bolzonaro, que seria bisavô do presidente.
Ernesto Araújo e Eduardo Bolsonaro articulam roteiro Polônia-Hungria-Itália
Os detalhes da viagem estão sendo acertados. Na Polônia, os governos dos dois países devem assinar acordos de cooperação na área de defesa, educação, ciência e tecnologia. Na terça-feira passada, Bolsonaro confirmou a visita ao país após se reunir com o chanceler polonês, Jacek Czaputowicz.
No dia seguinte, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, seguiu com o chanceler polonês para os Estados Unidos, onde participaram do lançamento da Aliança pela Liberdade Religiosa. A iniciativa é do secretário de Estado americano, Mike Pompeo, e tem apoio de Brasil, Polônia e Hungria. O objetivo é atrair países governados pela direita nacionalista.
O roteiro Polônia, Hungria e Itália vem sendo ensaiado desde o ano passado por Araújo e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, que busca aproximação com líderes da direita no mundo.
Presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, Eduardo visitou a Hungria, do primeiro-ministro Viktor Orbán, e a Itália em abril de 2019. Na ocasião, o parlamentar se encontrou com o então vice-premiê e ministro do Interior Matteo Salvini, do partido de extrema-direita Liga.
Em setembro de 2019, a Itália passou a ser governada pela centro-esquerda. Salvini, no entanto, anunciou que tentará retornar ao poder em 2020 e, em entrevista à imprensa italiana, disse que deseja formar uma aliança de líderes nacionalistas com a participação de Bolsonaro. Outros citados foram Donald Trump (Estados Unidos) e Boris Johnson (Reino Unido).
Polônia e Hungria, junto com República Checa e Eslováquia, formam o Grupo Visegrado, em que a direita nacionalista está no comando. Desde 2010, Orbán é defensor do que chama de "democracia não liberal" e se mantém no poder unindo nacionalistas e ultraconservadores na Hungria. Já a Polônia é governada pelo presidente da extrema direita Andrzej Duda, do Partido Lei e Justiça, desde 2015.
<b>Dilma e Temer foram conhecer suas origens</b>
O costume de políticos conhecerem as origens se tornou tradição. Em outubro de 2011, Dilma Rousseff visitou Gábrovo, na Bulgária, onde nasceu seu pai. Michel Temer esteve em Btaaboura, no Líbano, cidade de sua família, em maio de 2016. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>