Cidades

Famílias perdem tudo na Hatsuta e esperam sair de lá

O incêndio na favela Hatsuta, ocorrido na noite desta quinta-feira, em Guarulhos, expõe um velho drama das grandes cidades. Famílias que vivem em áreas de risco e que acabam perdendo tudo de uma hora para a outra. O GuarulhosWeb foi até o local, na avenida Monteiro Lobato, Vila São Roque, conferir a situação dessa comunidade. 
 
Segundo uma moradora que não quis se identificar, o marido dela chegou bêbado em casa na noite da quinta-feira. Os dois começaram a discutir. Poucos minutos depois, ele teria ateado fogo em alguns objetos. Segundo a testemunha, o fogo se alastrou rápido. “Graças a Deus eu tive tempo de sair correndo e não me machuquei”, contou.
 
No local onde o fogo teria começado, eram duas casas independentes, uma sobre a outra, numa espécie de sobrado. As duas famílias conseguiram sair sem ferimentos e alertaram os vizinhos que imediatamente usaram baldes e mangueiras para tentar conter as chamas. Porém, o fogo só foi contido após a chegada do Corpo de Bombeiros.
 
Alguns moradores afirmam que o homem, possível responsável por provocar o incêndio, foi imobilizado pelos próprios vizinhos. Porém, como o fogo começou a se alastrar rapidamente, foi preciso solta-lo para impedir que mais casas fossem atingidas. Após o fato, o homem teria desaparecido. A companheira do acusado disse não ter noticias do paradeiro dele. “Não estou triste por mim, mas pelas pessoas que foram atingidas”, desabafou. 
 
Maria de Lourdes Pereira disse que não quer aceitar a doação de mais madeira para construir outro barraco, como é costume depois de tragédias como esta. “Eu já passei por isso uma vez e não vou passar de novo. Eu já fui contemplada como um apartamento no Lavras, já fiz a vistoria e quero ir para lá, não aguento mais viver desse jeito”, explicou. 
 
Muitos moradores se abrigaram em casas de amigos e familiares. “Eu consegui um colchão e dormi com a minha família dentro do barraco de um amigo, mas não posso abusar da boa vontade, preciso de uma solução”, contou a dona de casa, Marcia da Silva, de 37 anos.
Pela manhã, uma equipe da Defesa Civil esteve no local para cadastrar as famílias e distribuir roupas. Além disso, funcionários da prefeitura ajudavam os moradores a limpar a área atingida, retirando os objetos queimados. 
 
Segundo o Corpo de Bombeiros, durante o incêndio, 24 viaturas foram utilizadas no local. Cerca de 600 barracos, em uma área de 2 mil metros quadrados, foram atingidos. Houve ainda o registro de uma vítima menor de idade, que foi socorrida ao Hospital Geral de Guarulhos, com sintomas de intoxicação. Até o início da manhã desta sexta-feira (19), duas viaturas permaneciam no local para realizar a prevenção. As causas do incêndio só serão divulgadas após a conclusão da perícia.
 
Durante a noite e o início da madrugada os moradores receberam o auxilio da Paróquia São Roque, localizada a poucos metros do local, que já realiza trabalhos voluntários com a comunidade. Segundo representantes da igreja, até às 3h desta sexta-feira (19), os moradores foram assistidos e foi oferecida uma sopa. Durante o dia foram servidos o café da manhã e almoço. A paróquia segue recolhendo doações para poder continuar ajudando os moradores. 
 
Para doar: Avenida Monteiro Lobato, 3.184 – Vila São Roque. Telefone: 2440-7683.
 
Reintegração de posse
No dia 23 de novembro de 2015, cinco dias após o secretário de Habitação, Orlando Fantazzini, declarar que o terreno onde está localizada a Hatsuta havia sido vendido pelo BNDES, os moradores realizaram um protesto que chegou a fechar o comércio da região e interditar os dois sentidos da avenida Monteiro Lobato.
 
Os moradores temiam que a reintegração fosse realizada antes da transferência das famílias para um conjunto habitacional, no Lavras. Além disso, famílias que se instalaram no local depois do cadastramento ainda não sabem para onde serão encaminhadas.
Em 6 de janeiro de 2016, a Secretária de Habitação afirmou ao GuarulhosWeb, que os apartamentos, construído pela Caixa Econômica Federal, estariam prontos e em fase de registros em cartório. 
 
A favela Hatsuta surgiu por volta de 1997, depois que uma empresa – de mesmo nome localizada ali – sofreu um processo de falência, deixando o imóvel abandonado. O BNDES, maior credor da indústria, ficou com a propriedade, que já estava tomada por centenas de barracos. Desde o início dos anos 2000, a comunidade só cresceu e já sofreu alguns incêndios. O pior deles ocorreu em 3 de fevereiro de 2014, há dois anos. 
 
 
Prefeitura atendeu 54 famílias
 
 
Em decorrência do incêndio, a Defesa Civil atendeu  54 famílias, que somam cerca de 200 pessoas. Ao todo, o fogo destruiu 45 barracos.A coordenadoria fez a doação de 58 cestas básicas, 125 colchões, 124 cobertores e ainda calçados e roupas. 
 
Os moradores foram alojados, inicialmente, em casas de familiares e amigos. 
 
 
A Secretaria de Habitação informa que o cadastro das famílias que estavam dentro da área da Hatsuta é cerca de 600, que serão beneficiadas com unidades habitacionais na região do Lavras. Entretanto famílias que foram para área ou áreas próximas após o cadastramento foram orientadas a fazer a inscrição no Programa Minha Casa, Minha Vida.
 
No que diz respeito aos demais moradores da comunidade Hatsuta, a Prefeitura disponibilizou uma lista com todos os inscritos habilitados e inabilitados, disponível para consulta em www.guarulhos.sp.gov.br em Destaques/Programa Minha Casa, Minha Vida.
 

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