no último dia 17, o jornalista Ricardo Kotscho postou em seu blog um texto revelador do profundo sentimento de angústia que se apossou de boa parte da população brasileira devido à infindável crise política pela qual o País atravessa. “Para a maioria das pessoas com quem converso, é melhor um final horroroso do que um horror sem fim. De fato, estamos vivendo dias de horror, de revolta e de vergonha. Já faltam palavras a velhos comentaristas como este que vos escreve para contar o que está acontecendo. Ninguém aguenta mais”.
Três dias depois, o mesmo sentimento ressurgiu numa reportagem publicada pela Folha de São Paulo, sob o título “Ansiosos, pacientes carregam angústias da crise para o divã”. Trecho da matéria assinada por Emílio Santana: “No consultório do psicanalista Márcio Giovannetti, da Sociedade Brasileira de Psicanálise, seus pacientes têm chegado às sessões falando primeiro de política. E, só depois de uma angustiante catarse, conseguem abordar seus problemas pessoais”.
O psicanalista confidenciou: “Em mais de 40 anos de Psicanálise, nunca tinha vivido algo similar ao que vem se passando de um ano para cá. A questão pública chega antes da privada. Essas pessoas estão se sentindo muito mal porque estão assustadas”. E concluiu: “Existe muito medo do que pode acontecer”.
Outro psicoterapeuta ouvido por Santana, Eduardo Ferreira-Santos, adiantou: “Não raro, esses casos de ansiedade elevada se transformam em Síndrome do Pânico”.
No mesmo dia, no Rio de Janeiro, o jornal O Globo, publicou uma crônica de Luís Veríssimo, conhecido por seu habitual bom humor. Neste texto, porém, o que Veríssimo expressou foi inquietação decorrente de um pressentimento. Título da crônica: “O primeiro morto”. Trecho dela: “Na convulsão que toma as ruas, nos enfrentamentos constantes e nos choques de ódios que se repetem, está se gerando o primeiro morto. Não se sabe seu gênero, sua idade, sua raça ou o que o matará, mas ele toma forma, e vem vindo”.
Neste mesmo período, Delfim Netto foi entrevistado no programa Canal Livre, da TV Bandeirantes. Declarou inicialmente o antigo homem forte na área econômica durante a Ditadura Militar: “Nós estamos equivocados. O Lula não está morto. O Lula tem com ele, pelo menos, a Igreja Católica, uma boa parte da imprensa – a ABI, por exemplo -, todos os movimentos sociais, os sindicatos”. Depois, ele alertou: “Nós estamos tentando provocar um cadáver”. “Ou uma coleção gigante de cadáveres”, completou um de seus entrevistadores.