Raro o brasileiro que hoje não esteja se sentindo cansado, esgotado emocionalmente, pela instabilidade social a que nos levou a prática irresponsável e criminosa da corrupção, sobretudo entre políticos, mas, infelizmente também adotada entre alguns policiais e juízes. Todos pagos, com dinheiros dos impostos que nos são cobrados, exatamente para assegurarem à Nação um permanente sentimento de equilíbrio, possível apenas quando o senso de justiça coletivo é atendido a ponto de fazer surgir paz social.
Tal satisfação tem sido negada aos brasileiros. Na verdade, estamos profundamente contrariados pelos infindáveis casos de impunidade clamorosa divulgados pela imprensa. Além de contrariados, estamos também irritados e angustiados com as interrupções diárias de vias públicas por manifestações de protestos, assim como com os atos irracionais de vandalismo contra o patrimônio de cidadãos e do próprio país. Para usar uma velha imagem, parece que vivemos numa panela de pressão prestes a explodir.
Nesta conjuntura, está longe de contribuir para serenar ânimos a defesa feita pelo magistrado Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, do voto com o qual ele poderá beneficiar réus já condenados por corromperem o Congresso Nacional, no caso do chamado Mensalão, se o juiz Celso de Mello, único que ainda não se pronunciou, votar como ele.
Aliás, serenar ânimos por saciar o anseio de Justiça dos cidadãos brasileiros não é a preocupação de Sua Excelência, como ele próprio disse taxativamente. Importante para Sua Excelência é votar com a consciência dele. E não se submeter às multidões e aos julgamentos feitos nas páginas dos jornais – ele fez questão de assinalar.
Há apenas três meses no STF, Sua Excelência, com a defesa de seu voto, fez uma inesperada pregação do que julga ser uma qualidade própria, sua – a de ter a estranha coragem de, diante do clamor público por condenação, beneficiar não pobres réus sem recursos sequer para pagarem advogados, mas gente poderosa que conta em sua defesa até com ex-ministros da Justiça.
Para quem ouviu Sua Excelência com a expectativa de poder acreditar pelo menos na instância mais alta da nossa Justiça, este discurso não revelará soberba postura elitista, além de inacreditáveis impertinência e arrogância diante de outros juízes do STF, mais experientes, que votaram de modo diferente dele?
Com todo respeito, temos de confessar: é difícil enxergar no que esta fluida entidade denominada por Sua Excelência de “minha consciência” se distingue de uma espécie de narcisismo togado.