“Caminho da roça… A ponte caiu… Olha a cobra…. Olha a
chuva… Cavalheiros protegem as damas”. Em tempo de festas juninas, as
tradicionais quadrilhas “ainda” atraem pais e familiares que disputam espaços
em frente às quadras das escolas onde seus filhos, depois de algumas semanas de
ensaios, se apresentam. É assim desde que me conheço por gente.
Desde o prézinho no Colégio Santo Antonio do Pari, onde
estudei em minha infância, lembro dessas passagens. Chapéu de palha que coça a
cabeça e incomoda, aquelas pinturas no rosto, antes feitas até com carvão e
hoje com lápis apropriados, camisa xadrez e a velha calça remendada pela avó na
véspera da festa, geralmente no meio da correria e com aquelas reclamações de
sempre: “tem que deixar tudo para a última hora”…
Do meu pré-primário até hoje são uns 40 aninhos e festas
juninas a perder de vista na escola, na igreja, na rua, no clube, na família.
Em qualquer lugar, é motivo de manter a tal tradição. Mas – neste ano –
acompanhando meu filho dançar, alguns detalhes me chamaram a atenção mais que
em outros anos. Primeiro que, apesar dele ser o noivo, nada de preparação muito
especial. Uma camisa xadrez, de preferência fashion, calça jeans sem um remendo
sequer e nada de pintar o rosto. O chapéu? Só na hora de entrar em cena e olhe
lá.
Quando a turma dele chegou à quadra reparei que meu pequeno –
quase um adolescente, como ele gosta de frisar no auge de seus 11 anos – estava
um tanto sem graça. Mão na boca, roendo unhas e todo desajeitado, mas não para
caracterizar um caipira. Olhei para seus colegas e percebi que, tirando uma
exceção ou outra, aquele comportamento era a regra da apresentação. Um grupo de
crianças entre 10 e 13 anos dançando sem qualquer emoção, somente para cumprir
tabela e manter a tal tradição.
Depois da festa do casamento caipira, o caminho da roça
confirmou o que eu percebia. Sem molejo, uma fila de casais mirins tentando
interpretar a música sem qualquer emoção. “A ponte caiu”. Ato contínuo, todas
viram para trás como que mecanicamente porque ensaiaram aquilo. Em seus rostos,
transparecia um “e daí?. Alguém vai consertar”. “Olha a cobra!!!”. “Que saco, o
que esse bicho tinha que atravessar nosso caminho bem agora?”. E por aí foi até
o final da apresentação, quando pais e familiares com seus iphones, samsungs se
engalfinhavam para tentar o melhor ângulo para a foto oficial do “casamento”.
Missão cumprida mas uma certeza. A tradição ficou para trás.
Imediatamente, como não sou de ferro, recorri ao Facebook para minhas
observações habituais a fim de compartilhar com o resto do mundo o sentimento
vivido naquele momento. Chamou a atenção o grande número de curtidas,
comentários e compartilhamentos em meu post, revelando que não estou ficando
louco ou mais exigente do que já costumo ser.
Na verdade fiquei imaginando qual seria o comportamento
desses pequenos se o caminho da roça fosse atualizado. Talvez, mesmo que a emoção
não viesse à tona, pelo menos o sentimento de desespero perante notícias
inesperadas pudesse aflorar naquela apresentação. Se em vez de gritar a “ponte
caiu”, o apresentador sugerisse coisas do tipo “a internet caiu”, “o Google
quebrou”, “O Facebook faliu”, qual seria a reação de cada um deles? E a sua?
Quem quiser que arrisque entrar no novo caminho da roça. Em tempos de redes sociais, como ficam as tradições?