Parte do acervo da família imperial brasileira está em leilão. Dos armários e gavetas de D. Pedro Carlos de Orléans e Bragança, de 71 anos, trineto de d. Pedro II e bisneto da princesa Isabel, saíram miudezas: porcelanas, cristais, cigarreiras, gravuras, relógios, moedas, comendas. A coleção, que tem itens de R$ 10 a R$ 40 mil, foi batizada de Pequenos Guardados.
“É como se você abrisse seus armários e tirasse as lembranças de uma vida toda. Só que elas vêm com o brasão imperial, ou o monograma da princesa Isabel e do conde DEu. São peças que contam a história de uma família, que se mistura à história do Brasil”, compara o leiloeiro Franklin Levy.
Pedro Carlos era o último integrante da família imperial a viver no Palácio Grão-Pará, em
Petrópolis, na região serrana, construção erguida entre 1859 e 1861. Com dificuldades para fazer a manutenção do imóvel, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), a família já havia arrendado parte do terreno para que ali funcionasse um estacionamento. Por fim, Pedro Carlos mudou-se para um apartamento em Itaipava, distrito de Petrópolis, e tratou de se desfazer do que não cabia na nova casa.
“É um biólogo aposentado, que quer viver os últimos anos mais leve. Quando a gente sai de casa, olha se o gás está fechado, as luzes apagadas e as janelas fechadas. Ele tinha de fazer isso e ainda se preocupar com a segurança de um acervo”, diz Levy.
O antiquário Miguel Salles selecionou e fez as descrições das peças. O leilão tem um cardápio do Baile da Ilha Fiscal, última grande festa da monarquia, seis dias antes da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. São 15 páginas, com a descrição de entradas, pratos principais, sobremesas, vinhos e champanhes servidos na festa. “Está em perfeito estado de conservação. Percebe-se que comiam muito e bem”, brinca.
Estudiosos da família imperial dizem que os itens mais valiosos em posse de d. Pedro Carlos, como as fotografias e daguerreótipos (processo fotográfico primitivo) da família imperial não foram colocados à venda. Em 2011, ele vendeu a pena com que a princesa Isabel assinou a Lei Áurea ao Museu Imperial de Petrópolis. O objeto, de ouro 18 quilates cravejado com 17 diamantes e 28 pedras vermelhas, foi negociado à época por R$ 500 mil.
Destaques – Mas Salles destaca que o leilão tem peças históricas, como o rebenque (pequeno chicote) de ouro e fina palha que pertenceu à princesa Isabel (lance mínimo de R$ 7 mil), um retrato de Pedro II menino (R$ 2 mil), coroa de louros conferida a Gastão DOrléans, o conde DEu, por feitos realizados na Campanha do Marrocos (R$ 8 mil). As peças mais caras são os serviços de jantar da Casa Imperial Brasileira – o de uso diário e o de gala. Cada um com lance de R$ 40 mil. Mas há camafeus por R$ 30; e uma saladeira em pedra sabão, por R$ 10.
Há ainda itens “mais modernos”: uma garrafa do prestigioso vinho Veja-Sicilia Único, safra de 1970, servido pelo rei Juan Carlos da Espanha aos convidados do casamento da infanta dona Elena, em 1995 (lance a partir de R$ 4 mil). E outros sem tanto glamour: um sofá de dois lugares, com manchas, tem lance de R$ 30; e um aparelho de som com duplo toca-fitas sai por R$ 200. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.