O evento ocorreu na Unimesp/FIG, na Vila Rosália, entre os dias 24 e 29 de julho de 2006, graças à inici do dr. Antonio Darci Panocchia. O tema foi: “Water research and management do IAP Programme”, e contou com a presença de 60 cientistas vindos de quase todos os países das três Américas, desde o Canadá até a Argentina.
As mudanças climáticas do planeta me chamaram a atenção. Nosso conhecimento sobre o assunto ainda é vago e impreciso. Vários climatologistas, metereologistas e matemáticos expuseram os seus trabalhos e o resumo é assustador.
Primeiro pelo fato da suspeita de aproximadamente cinco anos atrás, sobre o aquecimento global, já ser uma realidade. O planeta Terra está se aquecendo devido aos gases do efeito estufa, causados, principalmente, pelos Estados Unidos, que não aderiram ao Protocolo de Kioto feito em dezembro de 1997, no Japão.
Mesmo que o governo brasileiro resolva, a partir de hoje, não permitir o corte de um pé de árvore, a região leste toda da Amazônia, até o fim do século XXI, será destruída. Virará uma savana, um cerrado e a região central do polígono das secas no Nordeste, se tornará um deserto como o do Saara.
Dos seis modelos climáticos – definidos desde os balanços energéticos – usados pelos meteorologistas, todos coincidiram com a savanização do leste da Amazônia. Desde os modelos mais otimistas, como HADCM3, e o pessimista GFDL tiveram, para a região Amazônica, a mesma resposta. A floresta Amazônica estava devastada em 0,5% em 1970. Em 2006, estava 20% devastada! Isto foi salientado pelos irmãos doutores: Carlos Nobre e Paulo Nobre.
O dr. Eneas Salati, brasileiro, salientou que quando começou a estudar as mudanças climáticas, achava que o assunto seria para os seus netos. Depois verificou que seria para seus filhos e agora está vendo que o assunto é para ele mesmo, pois as mudanças climáticas estão ocorrendo já no mundo todo.
O matemático Pedro Leite da Silva Dias viu, nos Estados Unidos, os diversos modelos matemáticos, sendo que todos prevêem a destruição total do leste da Amazônia. Disse que quando tomou o avião para voltar ao Brasil estava passando o filme “The day after”, que fala do dia seguinte em que toda a humanidade foi destruída por bombas atômicas. Não teve reação nenhuma, pois pensava tristemente na nossa Amazônia.
As mudanças climáticas são uma nova ferramenta que os grandes projetistas de áreas muito grande terão que se defrontar. Para citar um exemplo, quando foi construída a barragem de Itaipu, usou-se dados de 1950 e 1960. Na década de 1960 houve um aumento de 30% na vazão em toda a bacia do Paraná e se colocaram mais turbinas para tirar mais 30% de energia elétrica. A atual tendência é que as chuvas estão voltando ao que eram em 1950 e então a oferta de energia elétrica irá diminuir de Itaipu em cerca de 15% e teremos problemas energéticos dentro de poucos anos.
As incertezas que nos levam à mudança climática, nos levarão, também, a investir em usinas de energia atômica, que independem da quantidade de água, pois hoje 85% da nossa energia elétrica vem das nossas hidrelétricas.
No sul e sudeste do Brasil as previsões até o ano 2100 é que o aumento de temperatura será entre 3ºC a 5ºC. A evaporação irá aumentar e com isto teremos chuvas mais intensas e regiões de seca e, para o planejamento de grandes áreas, será necessário analisar os eventos extremos (enchentes e secas), influenciando também o uso do solo. Muitas barragens terão que refazer os extravasores para os eventos extremos, que aumentarão muito.
O derretimento do gelo ártico, por exemplo, diminuirá a salinidade dos oceanos causando problema no transporte de calor, podendo haver mudanças climáticas impressionantes
Na França morreram, no ano passado, 15.000 pessoas devido a onda de calor.
As geleiras dos Andes desaparecerão até o fim dos anos 2030, só ficando gelo nos altos cumes.
O impressionante nas mudanças climáticas é que o Brasil sozinho não pode resolver o problema. Vamos ficar esperando e ver a destruição da Amazônia sem podermos fazer nada!
Na última revista da ABES de julho de 2007 saiu debate sobre mudanças climáticas de vários especialistas. Um deles, o prof. Tucci, colocou em dúvida os modelos climáticos utilizados pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). O grande problema são as incertezas nos parâmetros que entram nos cálculos dos computadores, podendo sair resultados fora da realidade. O desvio padrão de erros é maior que o desvio padrão entre os cenários do IPCC. Há realmente muitos erros, mas também não significa que devemos desacreditar totalmente neles.
Para a região sul e sudeste a divergência entre os pesquisadores é muito grande o que também é comprovado pelos diferentes modelos matemáticos.
Uma outra questão é a transposição do rio São Francisco, pois pelo que sabemos não foi considerada a variabilidade climática. Por exemplo, chove muito no verão onde nasce o rio e em Alagoas, onde chega perto do mar, as chuvas se dão no outono e inverno. Prevê-se uma redução de 15% nas chuvas e 20% nas vazões do rio São Francisco com aumento da temperatura de 3ºC.
Assim no rio São Francisco o ideal seria fazer canais fechados ao invés de canais abertos, pois diminuiria sensivelmente a evaporação da água segundo o professor Tucci.
O desmatamento no rio São Francisco diminuiu a vazão média na hidrelétrica de Sobradinho cerca de 15% da vazão média. Na questão energética, alguns especialistas opinam para fazer pequenas hidrelétricas e energias alterns como a solar, eólica e biogás. Outros opinam pela energia nuclear. Pessoalmente acho que a energia nuclerar será no futuro uma alta porcentagem da nossa matriz energética.
Savana
Uma savana é uma região plana cuja vegetação predominante são as gramíneas, salpicadas por algumas árvores esparsas e arbustos isolados ou , as savanas são zonas de transição entre bosques e prados.
Efeito estufa
É causado pelos gases: dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O), Hexafluoreto de enxofre (SF6), as famílias dos perfluorcarbonos (compostos completamente fluorados, 4 e perfluoretano C2F6) e hidrofluorcarbono (HFCs).
Protocolo de Kioto (Fonte: Senado Federal-Brasília 2004)
Realizado em 1997, no Japão, em que todos os países devem reduzir em 5% aos níveis de 1990, com as emissões de gases de efeito estufa. Somente os Estados Unidos e a Rússia são responsáveis por 57% das emissões de CO2 e não assinaram o chamado protocolo de Kioto.
Até 2100 está previsto, no protocolo de Kioto o aumento na temperatura média da superfície terrestre de 1ºC a 3,5ºC e aumento do nível médio do mar de 15cm a 90cm.
*Plínio Tomaz, 66, é engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP, ex-superintendente e diretor do SAAE, e ex-funcionário do Ministério das Minas e Energia. Atualmente, é conselheiro do CREA-SP, diretor de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da ACE-Guarulhos, coordenador do projeto de norma da ABNT para aproveitamento da chuva e assessor especial de meio ambiente da OAB-Guarulhos.