"A seleção brasileira é dependente de Neymar". Foi dessa maneira que Tite se referiu ao time que comanda e ao principal jogador do elenco em entrevista exclusiva ao Estadão. Em menos de três meses, a seleção brasileira estará na Copa do Mundo do Catar tentando o hexacampeonato. O treinador deposita muita confiança no atacante do PSG.
"Neymar é um jogador que, pelo histórico dele, tem essa chancela, ele tem uma capacidade criativa impressionante. O que é isso? Todos nós jogamos peladas na vida, alguns foram profissionais. De dentro do campo, pressionado pelos adversários, a noção de profundidade se perde. E aí eu enxergo do lado de fora todo o panorama do jogo, mas sou surpreendido por uma solução que não imaginava. O Neymar vê o que outros não conseguem ver. Ele consegue soluções. Ele antevê as jogadas", diz Tite sobre seu camisa 10, que ainda não estourou em Mundiais.
Neymar vai para sua terceira Copa do Mundo. Ele já disse que poderá ser sua última. Em 2010, Dunga não o quis levar para a África do Sul. Nem ele nem Ganso. Em 2014, no entanto, Neymar já figurava entre um dos melhores do mundo, após combinar com Messi e Suárez no Barcelona. Mas se machucou contra a Colômbia e não jogou mais. Ele não estava em campo na derrota por 7 a 1 para a Alemanha na semifinal.
Quatro anos depois, na Rússia, na mesma condição de principal referência do time brasileiro, já sob o comando de Tite, também fracassou. O time perdeu para a Bélgica nas quartas. Foi zombado por memes do mundo todo rolando em campo, numa referência aos pedidos de falta durante a competição. Saiu da Rússia com a imagem arranhada e teve de recorrer a um trabalho especial para dar a volta por cima.
Para o Catar, de acordo com Tite e sua comissão técnica, o atacante está extremamente focado, até começou seu trabalho no PSG antes do prazo, abrindo mão de dias de férias. Fez um começo de temporada na Europa de muitos gols e boas jogadas. Deixou um pouco para trás as redes sociais e tem focado no futebol. O treinador sabe o jogador que tem nas mãos e conta com ele para conduzir o Brasil à final. Dali para frente, segundo Tite, é outra coisa. Chegar à decisão é o primeiro objetivo da equipe.
Mas essa dependência de Neymar, que no passado parecia um fardo para a seleção e seus treinadores, foi assumida por Tite de modo que não pese em seus ombros nem nos ombros do próprio jogador. Tite diz que a seleção brasileira é totalmente dependente dos "bons jogadores e bons treinadores". Ele cite Neymar, mas também fala de Vinícius Jr, que parece "ter sete marchas" para atacar. Menciona Raphinha e Antony como outros craques do Brasil e para quem o time se dobra.
O treinador não teme assumir publicamente essa dependência dos "bons jogadores", e espera que todos eles façam no Catar o que já demonstraram em campo com a camisa do Brasil. De Antony, por exemplo, Tite diz que ele tem "pés de pelica", que a bola é dominada e já colocada no chão para o ataque e que o marcador sabe que se ele for para cima, vai tomar o drible.