Deputados democratas exibiram nesta quarta-feira, 10, vídeos inéditos para sustentar a acusação contra Donald Trump no julgamento do impeachment do presidente, realizado no Senado. As imagens mostram os senadores sendo retirados do plenário, no dia 6 de janeiro, quando o Congresso foi atacado.
Em uma das cenas, o então vice-presidente, Mike Pence, é conduzido por agentes do Serviço Secreto, junto de sua família, para fugir dos invasores. No andar inferior, apoiadores de Trump buscavam Pence e a presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, com intuito de matá-los.
Os senadores assistiram em silêncio e, pela primeira vez, viram os registros internos das câmeras de segurança. A acusação aposta na sensibilização dos parlamentares, que são ao mesmo tempo juízes e vítimas do ataque. "Trump renunciou ao seu papel de comandante-chefe e tornou-se o incitador-chefe", disse Jamie Raskin, líder do grupo de deputados responsáveis pela acusação.
Entre as cenas, há imagens do segurança Eugene Goodman, que distraiu a multidão para evitar que extremistas chegassem ao plenário, orientando o senador Mitt Romney a mudar de direção. No vídeo, o republicano corre para não se defrontar com os invasores. Em outra imagem, o atual líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, corre junto aos seguranças de um lado para o outro em um corredor.
Os democratas relembraram as vezes em que Trump rejeitou a transição pacífica de poder, antes da eleição, com vídeos e imagens das frequentes postagens do ex-presidente no Twitter com falsas acusações de fraude eleitoral. A acusação sustenta que Trump tentou deslegitimar o processo eleitoral durante meses e instigou seus apoiadores a lutarem contra a certificação de Joe Biden, sendo responsável pela tentativa de ataque ao Capitólio.
No dia da invasão, Pence tinha a missão de conduzir a sessão de certificação da eleição de Biden, na função de presidente do Senado. Trump, no entanto, continuava a clamar vitória e dizia que os democratas fraudaram o resultado. Em discurso no dia 6, ele pediu que a multidão lutasse por ele. "Se Pence fizer a coisa certa, nós vencemos."
"Ele construiu essa multidão por muitos meses", disse o deputado Eric Swaldell, um dos líderes da acusação. "Ele os fez acreditar que a vitória foi roubada e os incitou para que pudesse roubar a eleição para ele mesmo."
Os republicanos, porém, não pretendem condenar Trump, que pode se tornar inelegível com o impeachment. Os democratas precisam do voto de 17 dos 50 senadores republicanos e só então abrir a votação para torná-lo inelegível. Mas as defecções são consideradas improváveis em razão da influência que Trump ainda exerce na base eleitoral do partido.
Pesquisa realizada pelo site Vox em e pelo Data for Progress mostrou que 72% dos eleitores republicanos questionam o resultado da eleição e 74% dizem que as alegações de fraude contribuem para esse sentimento.
Além das imagens, os democratas fizeram os senadores ouvirem áudios trocados por policiais no dia do ataque, no qual os agentes se mostram desesperados com a invasão. Imagens de policiais feridos foram exibidas várias vezes.
O julgamento deve se estender durante o fim de semana. No sábado, 13, a pedido da defesa, não haverá sessão, mas o processo pode ser retomado no domingo, 14. A expectativa é encerrar o caso no início da semana que vem. Nenhum dos dois partidos pretende prolongar o impeachment, que tem resultado já esperado. Os republicanos querem virar a página de um ataque que marcou negativamente a história do partido. Os democratas desejam liberar a pauta do Congresso para discutir o pacote de socorro econômico de Biden.
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>