A pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira, 16, mostrou que existe um limite para a estratégia da presidente Dilma Rousseff de criticar Marina Silva (PSB) e quem ganhou com isso foi Aécio Neves (PSDB), que subiu quatro pontos porcentuais, na avaliação de Carlos Pereira, cientista político da Fundação Getúlio Vargas. Segundo ele, o crescimento do tucano também pode ser atribuído ao escândalo de desvio de dinheiro da Petrobras, que agora parece ter repercutido entre o eleitorado. “Marina mostrou resistência, Dilma mostrou fragilidade e Aécio mostrou sobrevida”, resume.
“Essa estratégia da Dilma pode ter chegado a um limite, porque a pesquisa mostra claramente que Marina não foi mais afetada pela campanha negativa, quem caiu foi a Dilma”, diz Pereira. O analista destaca ainda que a queda da petista foi praticamente toda absorvida por Aécio. “Ele conseguiu roubar votos da Dilma. Os votos em branco e nulos não caíram, o que significa que possivelmente esse crescimento do Aécio pode ser atribuído à Petrobras.” Para o analista, o eleitor começou a perceber que esse escândalos e assemelha ao mensalão.
Pereira classificou o avanço de Aécio como “surpreendente” e explicou que Dilma tem um voto consolidado de pouco mais de 30%, mas estava dez pontos porcentuais acima desse patamar nas últimas pesquisas. “Ela estava tendo muito mais votos do que o consolidado e essa gordura é um voto mais volátil, que foi para Aécio”, aponta. Segundo ele, o tucano “não está morto”. “Ele cresceu quatro pontos porcentuais, o que representa 6 milhões de votos. Isso é substancial”, argumenta, destacando que Aécio cresceu consideravelmente também nas simulações de segundo turno.
O cientista político também chama a atenção para a resistência de Marina diante dos ataques, uma vez que sua queda de um ponto porcentual no levantamento foi dentro da margem de erro. “Esse resultado é surpreendente porque mostra resiliência e consolidação de Marina, que tem resistido a ataques principalmente da Dilma, mas também do Aécio, consolidando-se para o segundo turno”, diz.
Mudança de tom
Pereira acredita que a campanha do PT vai mudar o tom em reação à pesquisa e aponta que “pegou muito mal” a propaganda do partido na televisão mostrando uma mesa vazia diante da proposta de Marina de independência do Banco Central. “Isso não é crível. Os eleitores da Dilma podem ter percebido isso e a vitimização da Marina talvez tenha surtido efeito. Mesmo com pouco tempo, ela conseguiu segurar a onda”, avalia. “A literatura americana sobre campanha negativa afirma isso. Ela tem um impacto no curto prazo, mas não consegue se sustentar ao longo do tempo.”
O analista destacou ainda o grau de competitividade das eleições, com alta incerteza, o que, para ele, é evidência da consolidação da democracia brasileira. “Todo mundo faz críticas ao sistema brasileiro, mas um dos critérios fundamentais da qualidade da democracia é a incerteza no processo eleitoral. Quando se tem um vencedor antes que o jogo acabe, o sistema é fraco”, frisa.