Estadão

Agente de estrelas quer Ferroviária como referência na formação de atletas de alto nível

No passado, a Ferroviária já deu muito trabalho aos times grandes de São Paulo. Foi por muitos anos considerada a melhor equipe do interior paulista. Mas há tempos não consegue repetir as façanhas do fim do século passado, quando chegou a ficar na terceira posição do Paulistão, por exemplo. Sob direção do empresário Giuliano Bertolucci, agente de diversos atletas renomados, alguns até da seleção brasileira, que adquiriu 92% da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) da equipe em dezembro, a equipe de Araraquara busca se erguer no cenário nacional a partir da disputa da Série D do Campeonato Brasileiro.

A ideia de Bertolucci é transformar o clube em uma "referência na formação de atletas de alta competitividade", fazendo dinheiro com a revelação de jovens e buscando acessos em sequência no Campeonato Brasileiro, além, claro, de expandir sua influência nos clubes compradores no Brasil e também na Europa. O agente representa, por exemplo, o zagueiro Marquinhos, do Paris Saint-Germain e da seleção, e também esteve à frente da saída do técnico Vítor Pereira do Corinthians para o Flamengo.

Apesar de o acordo ter sido efetivado no fim de dezembro, a nova administração – substituiu o empresário Samuel Klein, das Casas Bahia, que saiu após polêmicas extracampo – não interferiu na montagem do elenco para o Campeonato Paulista, no qual o time acabou rebaixado. A Era Bertolucci na Ferroviária começa para valer na quarta divisão nacional, no primeiro fim de semana de maio, contra o Operário-MS, na Arena da Fonte Luminosa.

Bazzani, maior ídolo do clube, dono de 244 gols em 758 gols, jogou no Corinthians, e Dudu, que fez história no Palmeiras ao lado de Ademir da Guia e Leivinha, são os grandes nomes revelados em Araraquara, ao lado de Teia, Baiano, Wilson Carrasco e Viva, entre outros. Era uma época em os times do interior davam suador nos rivais da capital. A última revelação forjada na Ferroviária foi Jhotinha, em 2020, já com passagem pelo Ceará.

Revelar ao menos um grande nome por ano é o desafio para o clube se autossustentar. Com o acesso fácil de Bertolucci a grandes clubes do País e da Europa, ele precisa de apenas um bom jogador para fazer dinheiro e bancar as despejas da Ferroviária. Até mesmo usar as equipes de tradição como vitrine para as futuras revelações, uma vez que a exportação de mão de obra brasileira é algo recorrente no futebol. A base é um dos focos. Os clubes europeus vêm buscar cada vez mais cedo jogadores recém-lançados, assim como o mercado dos Estados Unidos. Bertolucci, que não dá entrevistas, junta ao seu negócio (agenciar atletas) uma ponta que faltava: ser dono de clube. Isso só foi possível graças à SAF.

A lista de jogadores sob a tutela do empresário é farta e de peso. Bertolucci trabalha com Piquerez (Palmeiras), Paulinho (Corinthians), Luan e Felipe Anderson (São Paulo) e algumas outros jogadores do Flamengo, como Cebolinha, David Luiz e Matheuzinho, e do Fluminense, como Gabriel Pirani e Lima. Nathan, do Atlético-MG, também está na sua lista.

Que já passaram pela seleção brasileira, além do zagueiro Marquinhos, o agente responde pelos caminhos de Bruno Guimarães, Ibañez, David Neres, Matheus Cunha, Andrey, Oscar e Willian. São mais de 60 jogadores gerenciados por ele, com diversas promessas. A Ferroviária não vai usar todos eles, mas se tornará vitrine para os mais cotados.

Bertolucci pouco aparece nesse emaranhado, mas seu nome é um dos mais importantes no País quando algum time necessita contratar um jogador. Apaixonado por futebol, o agente "não desliga" um só instante. Como os negócios são muitos, o filho Fillipo é quem será o presidente do Conselho Administrativo da Ferroviária SAF. Mas o grande nome para comandar esse sonho de transformação do clube no campo é Júnior Chávare, novo executivo de futebol.

HOMEM FORTE DO CAMPO
Chávare tem passagem por grandes times brasileiros, casos de Grêmio, Atlético-MG, São Paulo, Bahia e mais recentemente o Juventude, além da italiana Juventus. Foram duas passagens pelo clube de Porto Alegre, no qual revelou Luan, Everton Cebolinha, Arthur, Wallace e Ferreira.

"Este processo será focado na formação humana com qualidade, revelação de atletas de alto nível para o mercado e paralelamente montar equipes competitivas para todos os torneios profissionais", disse. "Conquistar acessos com a equipe profissional, melhorar a estrutura e os processos internos, fomentar a sinergia entre base e profissional oportunizando as melhores condições para obtenção de bons resultados e cumprimento das metas e objetivos nos torneios. São esses os nossos caminhos."

Apesar de falar em montagem de grandes times, Chávare admite que o olhar será diferenciado para a molecada, onde está o dinheiro. "O interesse da nova administração é tornar o clube como uma das maiores referências em formação de atletas de alta competitividade", afirma. "E as primeiras medidas adotadas após a queda para a Série A2 do Estadual serão a reestruturação de ordem financeira e definição de novas diretrizes para atender aos objetivos e metas definidos para que o clube consiga ser essa referência na formação", observa. E acrescenta. "Nossa ideia é ser competitivo em todos os campeonatos que disputar."

VITRINE NA SÉRIE D
"Quanto aos planos para a Série D, o clube terá de adaptar os investimentos com base no orçamento diante do atual cenário e competições que disputará. O objetivo é conquistar o acesso à Série C ainda este ano, e o trabalho será desenvolvido neste sentido", enfatiza.

O dirigente chegou a uma equipe com somente 12 jogadores. O técnico Elano, ex-Santos, trabalhará para montar um time competitivo para fazer bonito a partir de maio. Até mesmo a comissão técnica será contratada.

"A Ferroviária não pode perder sua identidade. Ao longo da sua história, revelou grandes jogadores e teve equipes que sempre orgulhavam seu torcedor. A SAF quer retomar os bons resultados e representar bem a Ferroviária. Para isso, vai trabalhar por uma administração responsável, coesa, assertiva e eficaz, essa é a missão. Só desta forma, teremos times competitivos e revelações", avalia Chávare. "Lógico que também precisaremos nos reforçar de jogadores experientes e que cheguem para fazer parte de um trabalho que precisa de resultados dentro do campo."

Seu trabalho é desafiador. Em poucas palavras: fazer tudo funcionar. "Chego com a missão de integrar todo o futebol masculino da Ferroviária. Meu trabalho será focado na formação do time principal e alinhar todos os processos para a base. Serei o responsável direto pelo departamento de futebol e terei todo apoio para desenvolver o trabalho."

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