Para aqueles que acreditam piamente que o governo brasileiro não pretende regulamentar os meios de comunicação, surge uma revelação interessante que vem da Venezuela, do presidente Hugo Cháves. Documentos publicados na última segunda-feira pelo site Wikileaks mostram que o governo dos Estados Unidos considera que Chávez “se aproxima da sua meta de domesticar ou eliminar os meios de comunicação livres e independentes”.
Vale lembrar que a presidente Dilma Roussef (PT), logo ao assumir o cargo, garantiu que estava sepultando um projeto desenhado por Franklin Martins, o homem da comunicação de seu criador, o ex-presidente Lula. Para ela, não existe a menor possibilidade do Brasil adotar qualquer atitude que vá contra a liberdade de imprensa. Mas em todo caso, vale observar como o amigo da presidente vem agindo.
“Chávez continua reduzindo a capacidade dos meios de comunicação privados de servir como contrapeso democrático”, afirma um telegrama emitido em fevereiro de 2010 pela embaixada americana em Caracas e publicado pelo jornal espanhol El País, informa a agência AFP. “Com os diretores da Globovisión suavizando seu tom e contando os dias que lhe restam e as aparentemente terríveis condições econômicas dos meios de comunicação impressos, Chávez está perto de sua meta de domesticar ou eliminar os meios independentes que restam na Venezuela”, continua o texto, escrito pelo embaixador à época, Patrick Duddy.
Os documentos diplomáticos revelam, ainda, que Duddy realizou encontros com diretores do canal privado Globovisión, que foi ameaçado de ser fechado em diversas ocasiões pelo governo Chávez. O embaixador se reuniu também com integrantes do jornal El Nacional, conhecido por sua posição contrária ao governo.
Mas nem tudo está perdido. Ainda. Ao mesmo tempo em que documentos indicam a intenção de Chávez de cercear a imprensa e acabar com os opositores, diversas organizações civis e jornalísticas da Venezuela se uniram para exigir do presidente que haja maior pluralismo nos meios estatais, livre acesso a informação pública e a devolução das emissoras confiscadas durante seu governo. Segundo a imprensa local as entidades criaram a Aliança pela Liberdade de Expressão.
Em declaração a presidente do Colégio Nacional de Jornalistas, Silvia Alegrett, na última sexta-feira (21), afirmou que 14 organizações, incluindo o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa solicitaram a Chávez que fale menos em cadeia nacional. “O governo da Venezuela multiplicou ultimamente suas violações aos princípios democráticos, tolerando uma certa liberdade de expressão em meios que considera de pouca ingerência política”. De acordo com o jornal El Universal, nos últimos oito anos foram produzidos 1.777 episódios que violam a liberdade de expressão.
Bom. Mas ainda bem que tudo isso ocorre na Venezuela, um país que quase não exerce influência sobre o Brasil, cujo presidente é um sujeito equilibrado que jamais serviu como conselheiro para nossos mandatários. Ou será que não é bem assim? Enquanto isso, sempre é bom ficar atento a cada movimento.