A Alemanha registrou ontem um recorde de mortes por covid-19. Visivelmente irritada com a marca de 590 óbitos em 24 horas, a chanceler alemã, Angela Merkel, defendeu o endurecimento das medidas restritivas para conter o avanço do coronavírus e pediu que a população reduza o nível de socialização. Em discurso no Parlamento, sua mensagem foi clara: reduzam o contato agora ou assumam o risco de perder entes queridos.
"Se tivermos muito contato antes do Natal e for nosso último Natal com nossos avós, teremos sido negligentes", afirmou a chanceler. "Lamento muito, mas pagar um preço diário de 590 mortes, do meu ponto de vista, é inaceitável. Faltam 14 dias para o Natal. E o que me preocupa é como o vírus está se desenvolvendo agora. Existem 3,5 mil casos a mais do que há uma semana e precisamos fazer tudo o que pudermos para evitar o crescimento exponencial que tivemos."
De acordo com o centro nacional de controle de doenças, o Instituto Robert Koch, a Alemanha contabilizou ontem 20,8 mil novos casos e 4,2 mil leitos de UTI estão ocupados. Em setembro, eram 1,8 mil casos diários, 12 mortes por dia e apenas 325 leitos de UTI estavam ocupados. Na época, Merkel foi acusada de "alarmismo" por sugerir que até o Natal a Alemanha poderia registrar 19 mil casos por dia, um número que foi superado há muito tempo.
Nos primeiros meses da pandemia, a Alemanha foi vista como um exemplo de gerenciamento da crise, incluindo um sistema eficiente de rastreamento, lockdowns rápidos e pontuais, além de um intenso programa de testes. Hoje, o país contabiliza 1,22 milhão de infecções e 20 mil mortes por covid-19, um número bem menor do que o de outros países, mas que tem aumentado rapidamente – a comparação que é feita entre os alemães é que o número diário de mortos equivale à queda de um avião lotado de passageiros por dia.
Durante seu discurso de ontem no Parlamento, Merkel foi constantemente vaiada por parlamentares da Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita, que continua a acusar o governo de alarmismo. Em resposta, a chanceler lembrou que cresceu em meio à ditadura comunista da Alemanha Oriental, onde os fatos eram controlados pelo governo.
"Por isso, eu escolhi estudar física, porque eu tinha certeza de que, embora haja muitas coisas que podem ser ignoradas, a gravidade não é uma delas. Nem a velocidade da luz, nem alguns outros fatos, como é o caso agora." Merkel descreveu como "alarmante" a quantidade crescente de pessoas que necessitam de cuidados intensivos e estão morrendo em decorrência da doença.
"Estamos em uma fase decisiva, talvez a mais decisiva, de luta contra a pandemia", afirmou a chanceler. "Os números estão em um nível muito alto." Merkel tem defendido reiteradamente ações mais agressivas para conter a disseminação do coronavírus, mas enfrenta a resistência de governadores, que são os responsáveis por impor ou relaxar as restrições.
Na Alemanha, bares, restaurantes, arenas de esporte e locais de lazer não estão abertos. Os hotéis estão fechados para turistas. Apenas escolas e comércio seguem funcionando. Ontem, Merkel lembrou que a Academia Nacional de Cientistas e Acadêmicos recomendou que os alemães reduzam o contato social e adotem um duro lockdown, de 24 de dezembro a 10 de janeiro. "Faríamos bem em levar a sério o que os cientistas nos dizem", afirmou.
A chanceler pediu ainda que os governos estaduais considerem o fechamento das escolas antes do Natal e afirmou que uma movimentação de pessoas de uma barraca de vinho quente para outra, durante as festividades, seria "inaceitável" em razão do número diário de mortes por covid-19. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>