Estadão

Alta das commodities e espera por diálogo Rússia e Ucrânia atenuam queda da Bolsa

Queda dos mercados de ações internacionais prevalece e o Ibovespa acompanha, mirando terceiro pregão seguido de baixa. Contudo, a valorização das commodities e espera de retomada de diálogo entre Rússia e Ucrânia, ainda hoje, atenuam a queda do índice Bovespa. Mas segue no radar temor mundial crescente de uma estagflação – mistura de inflação alta e baixo crescimento. Na sexta, o Ibovespa fechou em baixa de 0,60%, aos 114.473,78 pontos. Às 10h50, cedia 0,01%, aos 114.349,09 pontos, após tentar alta de apenas 0,05%. Já nos EUA, os índices futuros diminuam a queda para a faixa de 0,30%.

Para Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa, ainda há algumas oportunidades na Bolsa e tem também fatores que levam a crer que o Brasil está em melhores condições em relação a outros mercados. "Enquanto há problemas no sistema europeu que podem avançar, o Brasil está bem posicionado. Sofreu bastante com temores fiscais no ano passado, o mercado ficou desalavancado e há alguns setores com boas possibilidades", avalia.

Ao mesmo tempo, o investidor fica de olho nas movimentações em Brasília para saber se o governo adotará alguma medida para aliviar um eventual repasse do aumento do petróleo recente para os combustíveis. Governo e Petrobras devem debater, amanhã, uma proposta para criar um programa de subsídio para os combustíveis. Nos EUA, a gasolina atingiu a média de US$ 4 por galão, pela primeira vez desde 2008.

O petróleo superou na madrugada de hoje a marca de US$ 130 por barril, com o do tipo Brent se aproximando de US$ 140, refletindo novos ataques da Rússia à Ucrânia e acirramento da discussão no Congresso americano sobre possíveis embargos à commodity russa. No entanto, diminuiu o ritmo de alta – da faixa de 9% a 10% para quase 3% -, em meio a informações de que a Rússia anunciou um novo cessar-fogo e a abertura de corredores humanitários.

"Óbvio que é bom para empresas petrolíferas. Só que chega em um momento em que os preços de energia nesses níveis provoca destruição de demanda enorme", afirma o fundador e CEO da Ohmresearch, Roberto Attuch Júnior.

Porém, as ações da Petrobras reagem em baixa, após PN ter testado alta. Muitos no mercado temem que eventual adoção de medidas para conter repasses do petróleo para os combustíveis levem à ideia de ingerência política e penalizem as contas públicas à frente.

De acordo com a Abicom, a defasagem de combustíveis dispara e importadores querem ação do governo. Nesta manhã, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que vai discutir o salto dos preços da commodity no exterior hoje à tarde com os ministérios da Economia e do Minas e Energia, além da Petrobras. Bolsonaro ainda voltou a criticar a política de preços da estatal, que alinha a variação dos combustíveis à cotação internacional do petróleo.

"Não sabemos até onde e até quando o conflito durará. Porém, é preferível enfrentar o problema de frente alta do petróleo do tapar o sol com a peneira", diz Natali.

Além do petróleo, outras commodities também avançam consideravelmente hoje, caso do minério de ferro na China, com alta de 5,67% no mercado à vista, e do trigo, dentre outros. Neste último caso, ações de empresas do ramo alimentício podem reagir positivamente. Porém, tende a elevar a preocupação no mercado em relação ao avanço inflacionário em meio ao baixo crescimento do País. Na Bolsa, o índice setorial de consumo caía 0,80% às 10h47. Já Vale ON subia 3,02% e CSN ON, 4,38%.

Por ora, a pesquisa Focus trouxe pouca modificação nas estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – passou de 5,30% para 5,80% em 2022. "O que nos chamou atenção foi a Selic projetada para 2023 e 2024 que está mais elevada sugerindo que os economistas acreditam que os juros devem persistir num patamar elevado por mais tempo", avalia em nota o economista-chefe da Necton, André Perfeito.

Além de avaliar os impactos da alta das cotações do petróleo no exterior, o investidor também acompanha o noticiário envolvendo a Petrobras. A companhia divulgou lista de 14 nomes indicados pelo governo para conselhos de administração e fiscal da estatal.

A Vale também publicou a lista de candidatos ao seu conselho de administração, que passará por nova eleição após a renúncia do ex-presidente da Previ José Maurício Pereira Coelho.

Já a Usiminas diz não passar por dificuldades de importação em função do conflito entre Rússia e Ucrânia, enquanto a BRF informa não prever impactos materiais da suspensão de exportação de planta do Mato Grosso para a China. Os papéis da BRF cediam 1,75% e os da Usiminas subiam 0,76% no horário citado acima.

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