O desempenho menos favorável das vendas na campanha de promoções da Black Friday e a inflação ainda elevada no País impediram um resultado mais favorável nas vendas no comércio varejista em novembro, afirmou Cristiano Santos, gerente da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O volume vendido subiu 0,6% em novembro ante outubro, mas apenas três das oito atividades pesquisadas registraram avanços.
"Se a gente reparar nesse dado da margem (série com ajuste sazonal), ele é um dado sendo ancorado por uma atividade muito forte, que é supermercados", apontou Cristiano Santos, dizendo que os supermercados aderiram a promoções de Black Friday e se beneficiaram também de alta no crédito. "Na verdade, cinco das atividades pesquisadas tiveram variação negativa no volume", frisou.
Os recuos foram registrados em móveis e eletrodomésticos (-2,3%), tecidos, vestuário e calçados (-1,9%), combustíveis e lubrificantes (-1,4%), livros, jornais, revistas e papelaria (-1,4%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-0,1%). Na direção oposta, houve avanços em hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (0,9%), artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,2%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (2,2%).
"Atividades que tem Black Friday forte apresentaram queda no volume", observou Santos, apontando como exemplo os segmentos de móveis e eletrodomésticos e de tecidos, vestuário e calçados.
No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, houve elevação de 0,5% em novembro ante outubro. O segmento de veículos, motos, partes e peças registrou alta de 0,7%, enquanto material de construção subiu 0,8%.
O resultado do mês anterior do varejo, outubro ante setembro, foi revisto de um recuo de 0,1% para uma elevação de 0,2%. No varejo ampliado, a taxa de outubro ante setembro foi revisada de um recuo de 0,9% para queda de 0,8%.
"As revisões são mais ajuste mesmo. Teve entrada de informações novas, mas foi mais ajuste (do modelo estatístico que neutraliza impactos sazonais)", explicou Santos.
Na comparação com novembro de 2020, o comércio varejista teve um recuo de 4,2% em novembro de 2021, o mais acentuado para o mês desde 2015, quando encolheu 7,8%. Sete das oito atividades registraram perdas. No varejo ampliado, as vendas caíram 2,9%. O segmento de veículos cresceu 1,7%, mas material de construção caiu 4,1%.
Santos lembra que a base de comparação de novembro de 2020 era muito elevada, o que também contribui para as vendas ficarem em patamar mais baixo este ano.
"Há também um componente inflacionário afetando bastante algumas atividades", acrescentou o pesquisador.
A Black Friday mais fraca em 2021 contribuiu com -0,8 ponto porcentual para a queda de 4,2% nas vendas do varejo em relação a novembro de 2020. No varejo ampliado, essa contribuição negativa foi de 0,7 ponto porcentual para o recuo de 2,9% no volume vendido, calculou o IBGE.
A melhora no desempenho do varejo na passagem de outubro para novembro fez o volume de vendas ficar 1,2% acima do nível de fevereiro de 2020, no pré-pandemia. No varejo ampliado, que inclui as atividades de veículos e material de construção, as vendas operam 1,9% aquém do pré-pandemia.
No entanto, apenas os segmentos de artigos farmacêuticos, material de construção, outros artigos de uso pessoal e doméstico e supermercados estão operando acima do patamar pré-crise sanitária.
O segmento de artigos farmacêuticos opera em patamar 13,2% acima do pré-crise sanitária; material de construção, 12,6% acima; outros artigos de uso pessoal e domésticos, 11,1% acima; e supermercados, 1,7% acima.
Os veículos estão 5,9% aquém do nível de fevereiro de 2020; móveis e eletrodomésticos, 14,8% abaixo; vestuário, 7,5% abaixo; combustíveis, 12,5% abaixo; equipamentos de informática e comunicação, 12,8% abaixo; e livros e papelaria, 37,7% abaixo.
"Continua tendo essa heterogeneidade em termos de crescimento das atividades do varejo e também do varejo ampliado", reconheceu Santos. "Está bastante desigual realmente ainda, e não tenho certeza se voltará a ser igual no futuro, ou mais homogêneo ao menos", concluiu.