Se para a ciência o envolvimento dos cidadãos é cada vez mais fundamental – e viável, graças aos recursos digitais -, para as pessoas comuns a experiência de participar de um projeto científico real é considerada apaixonante.
Colaborador frequente da plataforma E-Bird, que reúne registros de cidadãos sobre aves em todo o planeta, o músico Francisco Falcon registra esses animais desde 2009. “É emocionante saber que contribuímos, com informações que até então a ciência não tinha”, diz.
Contrabaixista em Niterói, Falcon se interessou ainda por aves ainda na infância. Nos últimos anos, passou a fotografá-las, além de entrar em contato com ornitólogos e grupos de observação.
“Percebi que há muito mais aves do que imaginamos. Comecei a observar principalmente na minha casa, no quintal. Só ali, já registrei 64 espécies diferentes. Em 2016, em Búzios (litoral fluminense), descobri uma ave migratória que até agora não havia sido registrada no Rio”, conta.
Para formar mais colaboradores como Falcon, a ONG Save-Brasil criou o Cidadão Cientista. Segundo a coordenadora do projeto, Karlla Barbosa, a ideia é convocar interessados para jornadas de 24 horas de observação em parques e unidades de conservação. Os dados também são enviados à E-Bird. “É importante não só porque contribui com a ciência, fornecendo dados para monitoramento e pesquisa, mas porque envolve o participante, que nota a importância da conservação.”
Após a jornada de observação, os participantes são orientados a registrar as espécies com todos os dados, incluindo fotos e sons. Um grupo de monitores – ornitólogos profissionais – verifica os dados. “Cada encontro tem a participação de cerca de 50 pessoas, que ficam fascinadas. Um dia não precisarão mais de nós e vão monitorar as aves espontaneamente”, prevê Karlla.
Vigilância. Outra ideia é a Plataforma Urubu, que mapeia atropelamentos de animais em estradas há três anos. Cerca de 20 mil usuários usam o aplicativo do projeto para registrar animais mortos em 1,7 milhão de quilômetros de rodovias no País. “Acreditamos que seja a maior rede de ciência cidadã da América Latina. Usuários enviam as fotos e temos 800 pesquisadores que ajudam a identificá-las”, diz Alex Bager, coordenador do Centro de Estudos em Ecologia de Estradas, da Universidade Federal de Lavras, em Minas.
Um dos desafios é a qualificação dos dados. “Resolvemos isso no sistema, em que cada foto é avaliada no por ao menos cinco especialistas”, afirma. “Quando os dados são integrados ao nosso mapa, é possível identificar os locais onde há alta mortalidade de uma espécie. Isso é depois usado por gestores para planejar passagens, túneis ou passarelas em áreas críticas.”
Uma das usuárias mais assíduas da plataforma é Elaine Marin, de 42 anos, que se dedica a competições de mountain bike em São José do Rio Pardo, no interior paulista. “Pedalo muito pelas estradas e frequentemente encontro animais atropelados. Meu filho é biólogo e me mostrou a Urubu. Quando acesso o aplicativo, mesmo sem internet, ele liga o GPS automaticamente. Quando chego em casa, envio a foto ao sistema e ele já registra o local exato. Tenho muito orgulho”, diz Elaine. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.